quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Vida de Papai Noel



Quem visita o comércio nesta época do ano sabe que tem Papai Noel saindo pelo ladrão. Virou ingrata profissão ser o bom velhinho. Pela roupa nada confortável que os candidatos, obesos em sua maioria,  tem que se dispor a usar, em sol escaldante de dezembro típico da nossa região tropical brasileira.

Mas o engraçado é como as crianças desta geração agem com o velhinho barbudo.

Já não pedem mais brinquedos, pedem bala. Porque daquele saco vermelho que fica aberto do lado do papai noel tem mesmo é bala. Brinquedo quem dá são os pais. Isso já é fato consumado para essas crianças.

E como em todo shopping tem um,  sempre tem a foto tradicional tirada do celular mesmo para encurtar logo a conversa.

No meio da fila a mãe vai  avisando: não puxe a barba do papai noel filho, isso é falta de respeito.

E já sentado do lado do Papai noel, este começa:

- Você está sendo um bom menino?

 E a criança balança a cabeça que sim...

- Está escutando tudo o que sua mamãe pede?

- Tô. Ela me pediu pra não te puxar a barba

E mesclam a sinceridade infantil com um pouco de imaginação, se esforçando para ainda engambelar o velhote:

- O que você quer ganhar menino?

- Uai, você não se lembra mais? Já escrevi cartinha e te pedi a semana passada. Não mudei de idéia....

A mãe puxa a criança pelo braço para tentar minimizar o mal estar que este papai noel estava sentindo.

Com tantas crianças, o coitado  já não lembrava mais o que foi que pediram na semana passada. Ou será que este moleque fez o pedido para outro papai noel e estava lhe confundindo. Cartas, ora bolas, não estava no contrato de serviço. Se inteirar dos pedidos por escrito, mais essa?

Ah,  vá, vá... Talvez no próximo ano um trabalho temporário  de vendedor em loja de brinquedo poderá ser mais interessante!

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Os que consolam


 
Créditos para Clarissa Cimati

Receber um consolo é algo natural, necessário e involuntário. Se a dor da perda de quem amamos é dilacerante, quem consola pode ter o poder de amenizar, de paralisar ou mesmo de confundir nosso processo de luto.

Divido os que consolam em quatro grupos:

Os que nunca perderam ninguém, então fogem, somem, nem sequer sabem se aproximar ou dizer palavras amáveis. Entendo porque já passei por esse grupo. Nem sequer ia num velório, que dirá na missa de sétimo dia.

Os que nunca perderam alguém mas se colocam na nossa pele.  E ligam,  perguntam , se preocupam. Confesso que por esse grupo tenho uma imensa ADMIRAÇÃO.. gostaria de ter sido assim, mais sensível a dor do próximo.

Os que perderam alguém e se sensibilizam com sua dor, sabem o que está sentindo:  te olham na alma. Ou melhor, olham o rombo no seu coração e só de olhar te entende. Te abraça com a mesma intensidade, entram na sua sintonia e te CONSOLA. Só no olhar.

Os que perderam alguém, mas  estão tão doloridos pela vida que dizem: vai ver...cada dia é pior. A saudade só aumenta. Vai ver no Natal... Eu considero esse o grupo mais difícil de encarar... eles sim atrapalham o processo do luto, antecipam nossa dor, confundem nosso sentimento. Deixam pior a situação.


Elaborar um luto é um processo delicado, íntimo e pessoal. Cada um sabe onde a dor pegou mais.   A minha pegou no crepúsculo, pegou no dia-dia, pegou na culpa de não ter conseguido salvá-la. Levei exato um ano para elaborar a perda da minha mãe. Ela se foi de forma  "De REPENTE" . Um dia nos falamos, no outro teve um mal estar e se foi. Sua morte foi uma morte linda, devo confessar isso. Ela realmente foi merecedora de ter ido sem sofrimento. Quem sofreu e ainda sofre somos nós sem sua presença física.

Mas hoje consigo ser grata a Deus. Por ter tido ela por trinta e seis anos. Por ter sido educada por ela. Gratidão por ter me dado a vida. Por muitos momentos de alegria quem passamos juntas.

E hoje, por ter passado por um luto, sou diferente. Me viro, corro ,dismarco tudo para ir a um funeral de alguém querido. Só não compareço se não posso mesmo.

Também me coloco no terceiro grupo, de abraçar e respeitar a dor dos que ficaram e entender que essa dor é a pior dor que possamos sentir. E sei que ela passa. Mas me coloco ali, mais físico mais companhia do que palavras! Tem hora que palavras não são suficientes. O sentimento é mais!

E o dente caiu...


 

Essa história de todo mundo ter perdido o dente la na classe dele estava incomodando a criança.  Nem adiantava vir com blábláblá. Ele queria perder um também! Afinal não era a época de todas as crianças de 6 anos perderem os dentinhos?

Deixamos por um tempo esse papo de dente mole de lado. Mas um belo dia, um dentinho lá de baixo começou a querer amolecer.

Foram alguns meses de empurra-empurra até ele ficar muito abalado quase caindo.

Mas nada. Ora lembrava, ora esquecia.

De vez em quando vinha me falar:

- Fada do dente mesmo só no filme. Quero so ver se ela existe mesmo viu mãe! Porque eu aceito só nota de cem reais.

E eu então nem cogitei em por moedas nem cédulas quando o dente caísse.. Afinal para cada dente 100 reais estaria mais era endividada.

Bom. O tempo passou e outro dia, precisamente na hora do almoço ele começou a mexer no dente mole.

E vai, volta, vai e  volta.

-Deixa eu ver filho?

A hora que olhei tava querendo sangrar. Ótimo sinal. Já quase era a hora.

Como estava assistindo ao jornal fiquei meio entretida com  as informações. De repente:

-Caiu! Caiu o dente mãe!

Como sou mãe festeira, quase beirando a algazarrenta, comecei a gritar, viva-viva e dar um abraço apertado beijando as bochechas fofas dele.

-Dá ele aqui. Eu que lavo pra não ter perigo de cair no ralo.

-Tá... com a maior calma do mundo.

-Vem vamos bochechar com agua oxigenada.

Abri a torneira e joguei agua com a mão.

Ploft... o dente escorregou com a foça da agua e caiu no ralo.

Atônita, abaixei em baixo da pia e desatarraxei o sifão.

Era agua suja, muita borra verde, que depois descobri ser bactérias saprófitas e no fundinho eis que vejo o dentinho.

-Isso porque você pediu pra lavar senão caia ne mãe.

Isso mesmo... levei um sabão com classe. Mas estava tão emocionada que nem liguei . O ato foi bem anti-pedagógico.

Mas depois de separar as partes escatológicas do dente, higienizei com bastante desefetante, lavei bastante a mão e fomos para a escola.

Nós dois em estado de alfa. Felizes. Por ter perdido o primeiro dente...

Vai entender a alma de uma mãe...vai!

 

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Vó Nina


Ela usava um lencinho na cabeça e sempre tinha uma chaleira fumegando no fogão a lenha. Ele nunca era apagado. O cheiro da lenha queimada era peculiar dentro da sua casa. No guarda-comida da cozinha tinha louças, poucas. E tinha uma lata com gravuras da Caça a raposa, e dentro bolachas maizena. Eram as melhores que eu já comi na minha vida.

O café ainda morno coado no filtro de pano gotejava no bule. Sempre com afazeres da casa, era doce e ao mesmo tempo firme. Mulher de fibra, talvez uma fibra que hoje não é tão valorizada. Mas uma mulher que acordava cedo, tomava conta do que os olhos alcançavam. Naquela época as crianças eram criadas no quintal.

Vó Nina era minha bisavó paterna. Sempre falante, era a segunda casa que visitavamos ao chegar em Pirangi. Primeiro da Lola, minha avó, depois a dela. Lá a gente se espalhava a visitar desde o banheiro até os quartos na tentativa de achar algum brinquedinho ou algo para nos distrair. Na sala viamos a teve encima da estante e na cristaleira várias lembrancinhas de casamentos e ´nascimentos.

Era assim.
Saudade infinita daquela época de Vó Nina

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Sinal de mudança na mudança do sinal




No sinal verde avançamos  e o  vermelho avisa que precisamos parar. Mas é o amarelo que  chama a atenção para a mudança. E é nele que num dado momento da vida, nas fases mais primeiras, aceleramos com tudo, na tentativa de termos a passagem livre.

Nesta muitas vezes arriscamos a vida, o tempo e a segurança. Nesta fase temos necessidade de passarmos no amarelo. A vida pede, o tempo corre e o compromisso sempre nos parece inadiável, imperdível,   seja ele qual for.

É a fase da correria, do último momento, dos atrasos e do se doar por inteiro, ser inteiro para a vida e no tempo que a vida corre.

E o amarelo da vida acende...

De repente, sem ao menos avisar, cada um , bem particularmente sente um sinal de mudança no amarelo  do semáforo e da vida.

Já não compensa transpor o amarelo, por meio minuto, por em risco toda uma vida, as vezes na carroceria temos um  filho, ou um animalzinho, e todo cuidado é pouco.

Não vai ser correndo que chegaremos lá. Seja onde for,  o amarelo pede calma. Nesta fase já não atravessamos mais a rua entre os carros, procuramos a segurança da faixa, sabemos que ali é o lugar correto.

E neste momento de transição, de mudança interior, tudo se reorganiza intimamente. Já não há mais espaço para disparar sem pensar, sem calcular riscos e perdas, os ganhos da tranquilidade são maiores e mais duradouros

A serenidade inunda a alma , talvez tenha a cor amarela, do sinal mesmo, que nos mostra o quanto esse rito de passagem para uma fase mais amena e madura é o lugar  que ficaremos  por tempos. A maturidade é  a existência desta tranquilidade plantada no amago de cada um.

E cada um, vai perceber, sentir e sinalizar quando a mudança do sinal vai ser o sinal da mudança.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

O que aprendi com a boneca BARBIE




Quando a gente é criança sempre tem  os brinquedos que  são coqueluches do momento. Aqueles lançamentos que logo cai no gosto da criançada e a gente começa a pedir: compra mãe... me dá um pai...

E nessas situações  podemos sofrer ou tirar grandes  proveitos

Comigo posso dizer que a boneca Barbie foi algo que durante  anos quis ter.Na época custava mesmo muito caro. Algo tipo o equivalente ao salário da nossa funcionária doméstica. Minha mãe muito adequada me colocou a par da situação  e me disse que para me dar a boneca deveríamos não ter mais os serviços dela. Ela ficaria sem emprego para que eu brincasse. Entendi e me contentei  em ganhar um bebezão, o  tal do Meu primeiro bebê. Particularmente algo bem mais adequado para se brincar do que uma boneca sexualizada como a barbie. Eu era a primeira filha de três. Logicamente meus pais deviam dividir os gastos com brinquedos com meus outros dois irmãos .

Lembro que cheguei  pedir para minha mãe trabalhar de noite na tentativa de angariar fundos para ter a bendita boneca. Fico imaginando a cara dela ao  ver meu pedido consumista.

Naquela época eu brincava com uma prima, que era filha única e tinha a Barbie.  Eu aproveitava e até fazia roupinhas para sua boneca.  Desenvolvi muitas habilidades com suas bonecas e cansei de tanto brincar. Aproveitei demais!!!

Com o tempo e a falsificação dos brinquedos e as lojas de 1,99 , minha irmã mais nova veio a ter muitas Barbeis, originais e  paraguaias , uma loira, outra morena outra ruiva,  varias roupas e acessórios. Mas depois de tanto tempo eu já era mocinha e não tinha a mesma motivação para brincar, mesmo  porque meus interesses eram outros ...

Posso dizer que  me recordo com muito carinho desta fase que vivi e da coragem de minha mãe de me ensinar o verdadeiro valor do dinheiro, de que a gente ensina cedo a uma criança que as coisas  tem s seu preço e que tem coisa que custa o preço de salário mínimo, e quantas  as vezes custa o próprio  salário da mãe. E que temos que esperar mesmo para termos as coisas que queremos.

Talvez por isso também sou bem  consciente com meus gastos inclusive com brinquedos para meu filho. Sei que o volume de propagandas de brinquedos é imensa, que ele sempre vai me pedir, mas quantas vezes mostro a ele que tem coisa que demora muito para se juntar no cofrinho para poder comprar.

Não vejo essa frustração como algo negativo na minha vida e nem na vida de meu filho. Acho que frustação a vida tem de monte e cabe a nós mesmo sabermos lidar com elas.


quinta-feira, 21 de junho de 2012

Café com prosa

Vez por outra sempre abrimos um espaço na nossa semana cheia de compromissos maternos e profissionais  para um café com prosa com as amigas.  Um espaço,  quase um oásis para quem corre, cuida, trata, gerencia, compra, vende e ainda por cima precisa estar magra...

Na louca exigência da vida moderna parar para respirar e trocar confidencias, idéias e mesmo jogar conversa fora é muito importante, digo até ser saudável.

Antigamente, bem antigamente no tempo das nossas avos, depois de arrumar a louça o café,  era na cozinha que as amigas se reuniam quase que semanalmente para um dedo de prosa, um café com bolo de fubá e muita conversa boa,  conselhos e mesmo fazer fuxico. Opa. Não fuxicar da vida alheia, fazer fuxico era  coser tecidinhos redondos para depois formar almofadas, colchas ou decorar a casa, bordar  e até costurar.Sem dúvida alguma a  vida delas era mais tranquila e elas arumavam espaço para conversar. Hoje, nós mulheres  modernas  sabemos  que isso é  necessário. Para a saúde física e mental e para também termos nossos  hiatos de abastecimento sócio cultural.

Num café com prosa se conhece melhor a amiga,  se aprende uma receita diferente e mesmo abre espaço para novas idéias e valorosos conselhos de mãe. Sabemos da nova loja que abriu e está com novidades, ou da outra loja que entrou em liquidação. Sabemos também que quase todas nós somos iguais quando dividimos confidências sobre filhos, trabalho  e empregadas.

Não necessariamente se toma café. Pode ser um chá mate gelado, um frozzen, um suco diferente ou mesmo uma salada de frutas com iogurte.

Também não necessariamente tem que ser num café, pode ser em casa mesmo, ou numa padaria diferente que faz quitutes imperdíveis.

AS vezes no café com prosa agregamos valor levando as crianças escolhendo estrategicamente uma mesa perto do espaço para os pequenos.E quando vemos, saímos mais leves do café com prosa. Porque semelhante ao happy hour em que se senta para tomar um chopinho, no café com prosa a gente relaxa corpo e alma.

Só que é preciso ter jeito para se ter um café com prosa. Porque café se toma com quem a gente gosta. E prosa a gente tem com quem confia.

Então, sugere-se convidar pessoas queridas para um momento tão especial!!!




quarta-feira, 20 de junho de 2012

Poeta das lentes por uma fotógrafa de palavras


Sempre apreciei fotos captadas com emoção. Até me arrisquei num curso com um professor sensível que teimava em nos transformar a pequena turma de curiosos  em hábeis  fotógrafos.  Mas minha habilidade mesmo é com as palavras. Deixo as imagens para os poetas das lentes.

Porque se faz poesia com imagens despercebidas. Se extrai o frescor é nas lentes da objetiva. Pode ate  escrever  lindos momentos clicando várias vezes a procura do melhor ângulo
E quem faz isso tem que ter sintonia com a câmera.Saber qual filtro, distância e melhor luminosidade. Mas, não só isso.Tem sempre algo mais. Brincar com a imagem, trazer inocência para o foco e buscar algo inusitado que estava ali para quem quisesse ver vai além, muito além.
A sensibilidade do fotógrafo é algo digno de ser respeitado e apenas sentido. E de objetiva da camera  para objetiva dos olhos a conversa. O diálogo se faz assim.


Isso é para poucos. Por isso chamo uma amiga fotógrafa de poeta das lentes. Porque consigo ver poesia nas fotos que faz. Nos cliques que ela tem ao clicar sua câmera. Muito lindo isso. Coisa que não se aprende em curso. É dela. É da alma do fotografo.
E sei que nesta roda viva da vida, onde cada um tem o seu talento, sua habilidade, o que sei é traduzir em palavras aquilo que ela me mostra nas imagens. Talvez seja  mesmo impossível transcrever o que ali se enxergou. Pode faltar palavras até. Talvez não
Mas de uma coisa tenho certeza, vejo poesia e até leio uma crônica  numa foto perfeita!


Reiniciar



Se o computador trava ou  instalamos novo programa, precisamos reiniciá-lo. Necessário senão  a coisa não funciona.

Penso que na vida as vezes precisamos reiniciar. Apertar o botão de desligar e ligar de novo.

Nossas experiências não serão deletadas, mas com certeza funcionarão de forma mais ágil e eficiente se soubermos o tempo certo de apertar o botão.

As vezes o reinício pode ser uma boa noite de sono. Ou uma tarde de sono. As vezes o reinicio pode ser a separação do casal que já não está mais em sintonia. Ou o trabalho que ficou maquinal, chato e sem sentido.  Reiniciar pode ser a mudança para algo que faça mais sentido e devolva o brilho nos olhos,  maquiagem natural de cada um.

Também por essa linha as vezes precisamos desinstalar programas que não mais funcionam bem na nossa máquina.  Sinto isso quando tenho que mudar de hábitos nocivos ou mesmo convido pessoas a mudar de caminho.

Em se tratando de saúde quantas vezes precisamos desinstalar  o cigarro, o álcool excessivo ou mesmo a comida demasiada. Ou a comida escassa. Cada um sabe onde o calo aperta.

Desinstalar angústias, ansiedades e mesmo mágoas do passado ajudam muito a máquina a rodar mais rápida e com vigor.

Jogar arquivos ultrapassados que só lotam nossa memória também faz sentido. Até na tela do computador existe lixeira. Porque não jogarmos nossos lixos mentais e mesmo os materiais mais vezes e com certa frequência.

Recomeçar,  organizar, desinstalar e limpar a tela não é só função que vemos no computador.  Ela se aplica aos nossos dias mais do que a gente imagina.


domingo, 20 de maio de 2012

Sob nova direção


Juro que quando vejo uma faixa assim,  num local já conhecido,  imagino quase que seja quase que  um protesto, um convite para ver que tudo está mesmo di-fe-ren-te!!!
Assim como um dia tinha uma faixa numa padaria com os seguintes dizeres: vende esse negócio. Pausa para imaginar que o dono que quer vender, na verdade foi orientado pelo pintor da faixa a colocar negócio ao invés de joça.

Talvez tenhamos mesmo que maquiar, deixar mais deglutível certas situações em que socialmente temos que prestar contas.
Mas  voltando a faixa de Sob nova direção,  penso que muitas vezes vejo essa faixa quase que invisível nas testas de algumas pessoas.
É que as vezes precisamos dar nova direção a vida, ao caminho que temos que trilhar e dar mesmo sentido a nossa existência.
Quando a gente não é convidado a mudar, através dos convites forçosos da vida, também podemos optar,  como que uma última aposta, uma última sacada, um último insight para dar outro rumo de direção daquilo que  nos é o mais importante... nossa vida.

Vejo isso nas mulheres que ao se separar,  se antes eram desleixadas, gordinhas e esquecidas, ficam todas lindas,  com o cabelo brilhante e um ar que nenhum plástico consegue colocar na face a não ser a felicidade genuina por si só.
Ou também em alguém que resolveu começar a dieta e mesmo aos trancos e barrancos vai tentando e por fim consegue mudar a silhueta fazendo as pazes com o espelho.
Alguém que resolveu apostar num negócio novo, num estudo diferente, ou mesmo em assumir uma nova religião ou opção sexual.
Porque ser feliz é o nosso destino. Nunca a infelicidade. Se estamos infelizes a direção está errada. A direçao-norte-e-sul e a direção-gerência .A gestão da vida está comprometida. E só um gerente pode ajudar...o seu gerente interior. 

Sei que cada um tem o seu momento, mas adoro quando vejo em testas andando por ai a tal faixinha mostrando que se antes o negócio não estava dando certo, agora o convite para conhecer o novo-antigo empreendimento é mais do que interno. É  uma condição intrínseca, única e íntima!!!


sábado, 12 de maio de 2012

Sublimando o dia das mães…




 Minha mãe partiu há um ano, em março de 2011. Foi uma grande dor, já que de repente sem ao menos avisar nem se despedir, ela  teve um mal estar que não foi possivel salva-la  nem com duas ambulãncias na porta de sua casa.
Demorei um ano para me recuperar do susto e da sua ausência física.  Entendo que o luto precisa ser elaborado e nada melhor do que chorar e chorar a cada crepúsculo, hora do dia que é demais angustiante.
Hoje,  sinto sua falta, mas quando a saudade aperta rezo por ela e sei que ela olha por mim e pela minha família: marido, filhos e netos  Ela era uma pessoa querida por todos:  poetisa, professora nata e boa mãe e avó.
Ela também me ensinou a não vangloriar datas como esta que se aproxima, o dia das mães. Como professora e cristã que era sempre disse que dia da mães é todo dia...
Mas é incrível como quando a falta física acontece a gente se apega nestas datas para relembrar e as vezes chorar a ausência de tão querida genitora.
No ano passado, o dia das mães estava muito recente sua partida, e no almoço do domingo das mães colocamos um vaso de flor no lugar da mesa em que costumava sentar. Foi muito triste.
Mas esse ano eu meio que sem querer estou enxergando e porque não sublimando essa data dedicada ao nosso primeiro amor, aquela que nos abrigou no ventre e depois no coração, de forma diferente.
É  que há cerca de três meses conheci uma senhora acamada com sérios problemas motores que também perdeu sua mãezinha há pouco tempo.
Ela ainda chora todas as tardes sentindo a falta da mãe que sempre cuidou e zelou por ela.Quantas vezes estive com ela e  a dor que ela sentia eu podia imaginar.
Várias vezes disse a ela que entendia porque tinha passado por isso há pouco tempo e sabia, que com a ajuda do tempo, essa dor ia se amenizando e se ajeitando dentro do coraçao.
Mas como o dia das mães estava se aproximando, e ela nessa tristeza toda natural de quem elabora um luto, me senti motivada a fazer algo  por ela.
-Sua mãe gostava de flores?
-Sim, das vermelhas em especial.
Era a dica que precisava.
Não, não estava querendo saber sobre flores para ir ao cemitério depositar flores na lápide da sua querida maezinha.  Embora respeite quem faz esse nobre gesto, não  tenho esse hábito. Cemitérios são demais tristes para visita-los em data tão especial. E sei que ali estão restos mortais apenas. Sua essência, alma, espírito como cada um denomina está bem longe dali.
Então levei tulipas , as mais lindas que tinha á disposição e na sexta feira a tarde, entreguei a ela, a filha chorosa pela falta da maezinha.
-Vamos fazer uma oração pela sua mãe e você vai abrir seu coração dedicando a ela essa flor e todo seu carinho.
E foi uma emoção, ela mesmo com toda a sua dificuldade motora para falar, rezou um Pai-Nosso , entre lágrimas e agradeceu todo o amor que a mãe tivera dispensado a ela durante toda sua vida.
...
Sai de lá sentindo uma enorme paz. Sei que essa prece também foi para minha querida mãe sabe o quanto sou grata pela oportunidade de vida que me deu,  pela conduçao na educação e pelos seus exemplos dignos.
Não vou levar flores em sua lápide. Nao acredito que ela esteja la. Mas também vou comprar um lindo vaso e dedicar a ela. Com todo o meu amor. Hoje e sempre!!!!

segunda-feira, 7 de maio de 2012

O sanfoneiro da porta do Mercado





Outro dia,  ia  apressada pelo caminho que habitualmente faço  do  trabalho até pegar meu filho na escola Era tarde e estava  cansada apos um longo dia. Jjá acostumada às músicas que o sanfoneiro cego da porta do mercado sempre tocava, desta vez tive um sobressalto.
A música tinha mudado. Mas não era qualquer música. Era uma música alegre e com acordes bem conhecidos. Era... Noite feliz.  E como um ato contínuo critiquei mentalmente o músico de rua pois estávamos em abril.  Mais perto da Páscoa do que do Natal.
Pensei, precisam avisar ele que o Natal já foi ou ainda virá. Mas logo em seguida me veio a voz da consciência. Confesso que gostaria que ela me falasse mais vezes.
Porque só tocar músicas de Natal em época de Natal? Se o significado da data remonta ao nascimento daquele que foi o filósofo dos filosofos,  o mestre, o meigo Rabi?
Agora já estava confortavelmente me sentindo a moça mais cristã da redondeza ao aceitar intimamente que se tocasse Noite feliz fora do período natalino.
Deveríamos tocar e cantar mais vezes noite feliz e  bate o sino... Mas o que incomodva ainda era algo que depois me pareceu para lá de mágico. Até então eu enxergava sim o cego da esquina do mercado como parte integrante do meu cenário cotidiano. Nada mais que isso.
Agora ele fazia parte de um seleto grupo de pessoas anônimas que cresciam no meu conceito cristão considerando a singeleza do ato assim como espalhando através de notas musicais um pouco do que Jesus viera nos trazer.
Sei que tudo isso se passou em minutos já que não pude parar para refletir ou mesmo sentar em alguma mureta de loja ou encostar em alguma marquise para apreciar tão linda sinfonia.
Alias,  nunca imaginei que músicas natalinas ficassem tão belas tocadas numa sanfona.
Já estava tarde, era hora de dar continuidade nos cuidados familiares e me perdi entre pensamentos dos meus afazeres domésticos.
Quase todos os dias, faça chuva ou faça sol, estando mais frio do que o ribeiraopretano possa agüentar, o cego sanfoneiro esta sempre lá, sempre com seu sorriso nos lábios tocando sua sanfona lindos acordes para quem quiser ou estiver disperto a escutar tão lindos ensinamentos.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

O guarda livros




Ele estava na entrada da antiga oficina mecânica do meu avô.  Estava todo destruído pelo tempo, cheio de teias de aranhas  e por dentro ao invés de prateleiras, tinha em seu fundo , formas de ferramentas pintadas de preto com um prego no meio de cada uma delas para que fossem identicados os seus devidos lugares.
Foi amor a primeira vista. Talvez  consiga contar com riqueza de detalhes como um armário faltando  porta,  sem vidro e quase sendo posto para fora hoje se tornou meu guarda livros.
Talvez naquele momento tenha resgatado ele do lixo, seu próximo destino caso não tivesse sido descoberto.
Conta meu pai que esse armário, na verdade guarda livros como chamava meu bisavô tinha sido encomendado a um marceneiro de Pirangi.
Paulo Braga era um lavrador com bons hábitos de leitura e para isso queria um armário adequado para guardar  suas raridades.
Ficou muito tempo na sala de sua casa que ficava no mesmo terreno que a casa de seu filho Mário Braga,  pai do meu pai, ou seja meu avô.
Não sabe precisar ao certo quando ele saiu do seu papel verdadeiro, o de guardar livros para servir de funçao de ferramenteiro.  Uma boa função também , que exerceu por anos a fio sem nunca ser descoberto.
Mas voltando ao momento em que foi salvo,  ali enxerguei uma antiguidade,  uma graciosidade que com função desviada tinha que como uma luz vermelha pulsando mesmo que imaginariamente...
Fui rápida e assertiva.
- Lola, sabe aquele armário que está na oficina do vô?  Eu quero ele pra mim.
-Vá, pode pegar... mas está todo acabado. Deve até ter cupim. Ta faltando uma porta viu...
-Eu quero mesmo assim. Vou mandar arrumá-lo.
E assim foi. Arrumei um transporte para traze-lo com muito cuidado para minha cidade e quando ele definitivamente desceu na garagem da minha casa, meu pai  disse:
-Compensa arrumar?
-Eu creio que sim!!!
Logo o restaurador me trouxe todo pintado com seus detalhes do entalhe em dourado e com a porta restaurada. Colocou vidros , jateados na borda e reforçou as pernas que estavam um tanto pendengas.
A partir daquele dia ele retomou sua atividade original: guarda livros.
É nele que guardo meus livros profissionais que mais tenho apreço. Tambem guardo por ele um imenso carinho, talvez o que mais guardo. Ele foi do meu biso, e num dia de visita a Pirangi,  consegui  enxergar nele seu verdadeiro papel , e acreditei que ele ia me acompanhar quem sabe por quantas gerações forem sensíveis de enxergar a grandiosidade de sua existência.

Sobrou comida?





Era assim que quando crianças,  escutavamos alguém pedindo assim que tocavam a campainha de portão lá em casa.
-Sobrou comida?
Moravamos em um bairro que tinha em suas cercanias algumas favelas, então era muito comum que ao entardecer essas pessoas , crianças e adultos fossem passando de casa em casa pendindo por comida.
Já levavam consigo um pote ou panela velha. Todo sujo de comida ainda, pegavamos com um certo asco, já que cheirava muito mal.
Meu pai já tinha nos instruido: lavem a vasilha antes de colocarem a comida.  E era nossa função, lavar o vasilhame e buscar na panela ou na geladeira um pouco de comida do almoço ou do jantar.
Fato muito comum para nós naquela época.  E mais comum se tornava a nossa ação de dar restos de comida que achavamos isso corriqueiro. Fato realmente  aceitável na vida.
De lá mudamos para apartamento em outro bairro mais central. Por lá já nao viamos tantos pedintes de resto de comida.  Ou pela localização do bairro ou por ser apartamento. Já nao sabia mais.
Mas continuava a ver crianças e adultos pedindo não comida, mas dinheiro no semáforo das ruas que passava. Pensava que agora já nao precisavam mais de comida.
Hoje morando em apartamento  quase que nunca vejo pelas ruas e nunca mais fui abordada para  fornecer um jantar, um prato de comida que fosse.  A vida verticalizada pelos prédios,  zeladas pelas guaritas dos condomínios inibe que pessoas necessitadas nos peça um prato de comida.
Mas se perguntar: sobrou comida?
Sobrou. Sobra muita. Em toda casa sobra muita comida. Jogamos comida boa fora todos os dias. Jogamos frutas, verduras e legumes. Jogamos alimentos vencidos na nossa própria dispensa. Isso é de cortar o coração. Porque quando falam que onde come um come dois, vou mais além. Onde come uma família, come-se duas. Tamanha fartura que hoje vivemos, consumismo exacerbado e falta de administrar nossa lista de compras e o quanto elaboramos de alimentos na cozinha.

MATRIOSKA









É aquela bonequinha  rechonchuda, bem típica do folclore da Rússia,  que vai abrindo e sai de dentro outra exatamente igual porém menor e assim vai ate sair a menorzinha onde não cabe mais nenhuma.

Um mimo que chama a atenção pela tamanha perfeição de quem elaborou, já que é toda  artesanal e pintada a mão. Fazendo uma analogia ela  merece reflexão na nossa condição de sermos seres que cabemos , que acolhemos o " nós" mesmos da fase anterior.

A adulta acolhe a jovem que acolhe a criança que acolhe o bebezinho que fomos. Isso é tão verdade que as fases vão passando e aquela que não faz mais sentido fica ali dentro guardada. Porque é ali que ela mora, dentro, nas memórias.

Mas quando a fase não foi passada direito, pulou se a fase, ela vive fora da matrioska. Então tem-se a  sensação que :" ela se veste como uma menininha e já é mulher"... Ou quando o contrário ocorre: " tão novo com responsabilidades de um  adulto.".

A matrioska que somos, embora seja uma boneca, serve igualmente para mulheres e homens e  é algo muito importante de ser considerado visto que um deve encaixar perfeitamente dentro do outro afinal essa é nossa essência. Somos o que fomos no passado desde a infância. 

Somos a somótoria de todas as fases e é isso que nos deixa com a fortaleza para enfrentarmos os golpes da vida e não esmorecermos, não nos esfacelarmos, sair as capas e desnudar nossa essência.

Gosto desta analogia. Acho perfeita se entendermos que temos em nosso cerne todas as fases vividas , ora elas se afloram, ora elas ficam bem escondidinhas...Mas elas estão ali, latentes , firme e nos dando a certeza que somos tudo isso e um pouco mais.

É ou não é????

Polenta com leite

Desde criança escuto duas histórias sobre polenta com leite. Quase que cada uma por um ouvido.
De um lado minha mãe falava com boca cheia: polenta com leite? Hum... que delícia que era comer isso na minha infância.
E a gente, eu e meus irmãos, tentavamos entender  como se comia tal iguaria com leite a ainda mais pela manhã... Café da manhã...
Então ela se enchia de orgulho e contava...”Minha mãe fazia  uma polenta grossa e firme , colocava numa forma, deixava endurecer. No outro dia ela esquentava o leite bem quentinho e cortava pedaços da polenta para comermos junto. Na época o pão era muito caro e éramos em muitos irmaos  então minha mãe fazia era polenta no lugar de pão. Eu amava...”
Naquela época a situação era  realmente diferente, não dá para se comparar com hoje, não passavam fome mas considerando que na família da minha mãe eram doze crianças. Ou seja  deve ter sido bem difícil para meu avô paterno nutrir doze e  minha avó.
Ela nunca chegou a fazer polenta com leite para nós. Mas vi ela comer muita polenta no leite quente e se esbaldar de tando que realmente gostava.  Para ela,  era uma agradável recordação de sua infância, onde via sua mãe preparando com carinho comida para todos.
Agora a outra história.
- “eu odeio polenta... Blaaaaahhh dizia meu pai quando via minha mãe fazendo uma polenta no jantar.
Mas porque pai? Perguntavamos na curiosidade de saber porque um amava  e o outro odiava a tal polenta.
“Porque quando eu era criança minha mãe so fazia polenta no café da manhã. Quanta polenta comi na vida. Eu queria mesmo era pão, mas nao tinha então a gente comia era polenta com leite. Hoje eu não posso nem ver. De tanto que comi hoje não quero comer mais.”
E a gente ria que se matava, por ver suas caras e bocas ao falar : polenta.
Nesta circunstãncia sempre me chamou a atenção o quanto as coisas são tão dialéticas. Uma mera polente sucitava na  minha mãe carinho aconchego e amor. Já no meu pai, que sempre foi meio “bocamelecia” era visto com asco  e mesmo  parecendo ter sido contrariado ao ter comido tanta polenta com leite.
Na vida as vezes vejo isso a se repetir em várias situações, corriqueiras que seja mas que nos chama a atenção. Por exemplo o frio, que uns amam e outros tem verdadeiro pavor. Ou a  chegada do  Natal, data muito especial porém para algumas pessoas é motivo de tristeza. Parece que realmente tudo esta  relacionado com lembranças e vivências com a situação. Ter estado emocionamente ligado aquilo, positiva ou negativamente.
Para mim, polenta nem cheira nem fede. Mas me chama a atenção na mesma casa que vivi, pai e mãe ter tido experiências tão distintas em torno deste alimento.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Passeio de escola na cabeça de uma mãe de um...


 
Por vezes me angustio   quando meu filho traz na agenda um recadinho de passeio da escola.  Fazendinha, chácara,  circo ou   museu. Ele alegre me mostrando data e devidas informações e eu com aquela cara de coxinha.. super temerosa.
Mas embora tenha  muito medo, receio e fantasias das mais medrosas  sempre deixo.  E  me certifico  com ele: se cuida, toma cuidado, nada de desgarrar do grupo, seja educado e um sermão parecido com o da montanha. Na verdade queria ir junto mesmo que escondidinha para ver como ele se comportava diante de situações como esta. Nunca deixaram e nem mesmo quero  expor o menino ao mico do ano..
Ele odeia meu rol de recomendações...  que dirá me ver no local inspecionando se está tudo bem...
Também pelos corredores vejo outras mães medrosas, sofrendo, querendo dividir sua angústia e so encontravam ressonância em outras mães medrosas. As que  levavam isso numa boa nem mais estavam na escola.  Tinham ido. Tocaram o barco. O que estas mães enxergam que ainda nao enxerguei?
E a gente lá,  comentando, se pelando e fazendo queixas grupais. Por  acaso me atentei que eramos todas maes de um. Maes de filho unico, maes que só tem uma cria e lambe como se fosse a coisa mais rara. Sim , para mae de dois, três, quatro e pontinhos, todo filho é raro. Mas não lambem. Não sofrem e não se apavoram diante do passeio, a voadinha mais longe do ninho...
Cada qual na sua loucura de imaginar os perigos da vida, mas mae de um nao tem com quem dividir emocoes e focar em outros horizontes. Ë ele e so ele. E ela é so ela. E vivemos, respiramos, comemos e planejamos a vida em torno  da criaturinha tao importante que por vezes nos esquecemos de nos mesmas..
Tai o erro. Tai o abismo que se forma entre o crescer e o temer.
Temo. E cresço. Mas talvez não cresco como a mãe de dois ou três. Também não estou aqui para defender que povoar a Terra com mais crianças seja a solução. Mas aquela diferencinha básica entre encarar a situação de frente , com medinho lógico  típico de mãe de mais de um,  e se sufocar nas fantasias de perigos e monstros imaginários da mãe de um  existe.
 Ô se existe...
Talvez tenhamos que um dia abrir a discussão e entender o amago da  cabeça da mãe de mais. Porque se na teoria filho é para o mundo, criar para a vida na prática a gente sofre um caminhão de sentimentos ao  deixá-lo ir ao passeio. E o nosso coração fica no vácuo..

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Cheiro de feira



Toda terça feira passo por um final de feira. São exatamente 13:30 quando passo por ali.
Já está quase tudo desmontado. Algumas caixas de madeira com restos de legumes e frutas, peruas kombis se ajeitando nas suas tralhas metálicas para irem embora finalmente almoçar.
Mas o que me vem sempre a minha memória quando lembro da minha rotina semanal de atravessar um fim de feira é o cheiro que sinto pelo ar.
E não é cheiro ruim não. Ainda não. Talvez porque ainda esteja no começo do cheiro o final da feira. .
Me faz lembrar que mesmo o que acaba ainda pode deixar um cheiro doce no ar.
Mas deixam no ar sua marca seu registro. E pode ter cheiro , cor, forma e som.
No caso da feira finda é o cheiro o que mais me chama a atenção. Também tem muitas folhas espalhadas, cascas de milho e tomates pisados. Tem papéis e engradados de madeira que nos dá a impressão que sempre deixamos marcas por onde passamos.


Também quando passo ainda consigo fantasiar que há uma hora atras estavam fazendo a xepa. Xepa é a promoção da feira. Quando a feira ja deu o que tinha que dar e os legumes são realmente vendidos na baciada. Caem os precos. Talvez para voltarem com as kombis mais leves, ou com os bolsos mais cheios. A xepa tem seus fiéis consumidores.

As 10 horas é a hora nobre da feira. A hora do pastel tinindo de quentinho, os queijos puxando feito linhas até a boca do cliente. De quebra uma caçulinha ou uma garapa. Para os mais saudáveis ou os que procuram retomar a saude uma agua de coco está de bom tamanho.
Tem a pamonha, o curau e até o milho cozido com manteiga e sal.
Nesta hora a feira lota de estudantes de uma escola da redondeza que aproveitando o intervalo das aulas vai fazer o lanche por ali mesmo.


Mas as 7 horas essa feira ainda é fresca... E nela apenas as senhorinhas assíduas com seus carrinhos arcáicos de feira e suas sacolas centenárias cheirando a nafitalina que hoje são vedetes.Mas elas já usavam e davam bons exemplos de cuidado com a natureza.
Nesta hora o sol ainda está baixo, o cheiro da feira é outro. É um cheiro de manhã, de vida começando , de rotina pegando no tranco. Nesta hora ainda se sente o cheiro do café sendo moído para atrair os clientes que apreciam o café caipira.
O cheiro do queijo ainda é fraco mas ele está fresco e nesta hora é a hora de compra-lo.
As verduras estão repousadas sobre a banca todas viçosas e verdes intensas.
Um verdadeiro convite para incluí-las ao cardápio do dia.


As 5 horas a feira está sendo montada. Nesta hora apenas os trabalhadores da feira sao donos da rua. Nesta hora vemos garrafas termicas de café fumegando em copos de vidro e pão saindo de sacos improvisados vindo de casa.
O dia de labuta está apenas começando.
Cada hora tem um cheiro. O cheiro da feira. Mas o cheiro que me resta é o cheiro do fim da feira. Um cheiro bom. Com nostalgia.

...

05:00 da manhã ... 5 de março de 1975... quarta-feira

Rua Tavares Bastos, Pompéia ainda amanhecendo...A feira está apenas começando...
-Abram alas, abram alas.. diz Sr Abrão o síndico do prédio...
- Queira dar licença para esse carro passar.. continua afoito
Os feirantes estranham o pedido do porteiro bigodudo..
-Abram alas, que a princesinha da Pompéia estaire a nascer...vocifera para todos escutarem...
Minha mãe já com dores do parto está a caminho da maternidade. Meu pai no volante do fusquinha vermelho tremendo de emoção. É preciso passar por todas as barracas montando ainda. Está escuro. Talvez por isso tenho tanta nostalgia quando passo por uma feira....
Nasci no dia de uma feira...

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Parto do Blog




Esse blog é de uma gestação de elefante. Mora dentro de mim há anos e eu não deixava estravazar. Até que engravidei literalmente. E já não continha de tantas histórias que a maternidade me trouxe. Com uma barriga imensa eu me lembro que rascunhava em papeizinhos os temas que me chamavam atenção...Depois foram as experiências de recém-nascido e de bebê...

Sinto o tanto que mãe sofre...Sofre porque tem que voltar ao trabalho, porque não quer voltar... porque o corpo mudou... porque o nenê tem cólica, porque quer colo , porque não mama, ou porque mama demais...

Mãe se culpa demais... e ainda mais se for de primeira viagem...
E de tantos temas e uma imensa necessidade de dividir com outras mamães ele simplesmente aconteceu , escorregou perna abaixo e nasceu...
Data e hora? Peso e altura?
Ele foi o segundo filho realmente fui relapsa.. nao lembro
Mas lembro muito bem que quando vi sua carinha...


Me apaixonei...


E como mãe que quer amamentar, alimento ele com frequência e com intensidade!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Escolhas...




Ou isto ou aquilo foi um poema que aprendi cedo nas aulas de português... logo percebi pelo olhar de Cecilia Meireles que não da para fazer tudo ao mesmo tempo.. ou se põe o anel ou se calça a luva...
Já faz tempo que esse poema vive nos meus pensamentos, mas ultimamente tenho refletido bastante sobre as escolhas que temos feito num mundo tão cheio de laptops, mp4, ipods, ipeds e tablets.
Penso bastante nisso quando em especifico, fico plugada demais na internet e constato que por lá estão bastantes amigos virtuais. Todos nós conectados.
Se fico no facebook ou vendo meus e-mails ou mesmo fazendo uma pesquisa no google, logo não estou com meu filho, não estou lendo um livro ou mais, não estou respirando a realidade.
Com todo respeito as mídias sociais, ao benefício do Dr Google e as caixas de correio eletrônicas, a vida pulsa é do lado de cá do computador. E pulsa na velocidade do coração e não em bits recebidos e emitidos.
A infância não espera, o almoço tem sua hora e a vida ensina que o hoje, as relações mais bacanas são as vividas olho no olho.


Gosto de dar uma bisbilhotadinha no feed de notícias do momento, saber o que meus amigos da lista imensa que possuo estão pensando e muitas vezes me delicio com notícias da minha profissão. Fotos de familiares nos deixam com a sensação de proximidade, parece que estamos vendo nossas crianças crescendo aos nossos olhos.
Mas tudo isso não substitui o ombro amigo, a conversa de telefone e a visita com direito a chá e bolo de chocolate.
Estamos de fato nos equivocando? Nossas prioridades estão deturpadas?
Vez por outra escuto e mesmo falo: Essa foto vai para o Face... Se a televisão nos tempos modernos é a rainha do lar, com direito ao lugar mais nobre da casa, num pedestal cromado e bem no centro do rack e das atenções, o face está sendo o rei do lar, aquele que merece reverências e ser checado a cada minuto para saber as atualidades.

Confesso que ainda estou no bolo, no meio, na onda, mas me questiono se isso esta fazendo bem a mim e meus familiares, que muitas vezes se privam da minha companhia ou das minhas opiniões porque estou plugada, ligada, hipinotizada com informações alheias, ou seja, mais preocupada com meus amigos virtuais, que realmente existem na vida real, mas que deixo em evidência e menosprezo sem perceber a companhia de filho, marido, pai...

A vida vai convidando a gente a experimentar as novas tecnologias... Mp3 para correr já foi provado que além de causar danos a audição aumenta o risco de atropelamentos. Os nossos celulares agora são minicomputadores, e por terem também a opção de despertadores ficam nos nossos criados mudos. Malefício na certa. Ondas magnéticas no quarto também impedem o sono. O uso do celular em excesso também tem aumentado casos de tumores no ouvido, o neurinoma do acúscito. Tem até clinicas de recuperação para viciados em internet.


Penso muito naquela máxima: se te convidam por educação (e aqui não é educação mas intenção de vendas, marketing e lucros,) devemos também recusar por educação ( e aqui leia se sobrevivência, qualidade de vida, manutenção das relações e mais, respeito para conosco mesmos, que diante de tantos artifícios da tecnologia nos desrespeitamos nos mais íntimas convicções de vida.
Não sou uma alienada tecnológica, alias está em pauta na minha próxima aquisição um tablete, sim, aquele computador que a gente deita no colo... Fácil para ler uma página de jornal virtual.
Mas hoje tenho um pouco de parcimônia com meu uso da internet.
Faz-me lembrar do mito das cavernas, quando Platão conta que os que moravam na caverna e viam a vida apenas pelo reflexo de uma pedra, achavam que aquilo era de fato a vida. E lá fora a vida corria pungente e feliz. Quando saíram da caverna, vendo então a realidade, entenderam que o que viam lá dentro era um mito. Afinal ou uso as mídias sociais para ver o mundo passar numa caverna ou deixo tudo desligado e sinto o vento bater no meu rosto, brinco com meu filho e tenho dentro de mim muita história para contar... Fora da caverna!!!!!

Ou isto ou aquilo
Cecília Meireles


Ou se tem chuva e não se tem sol,

ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possaestar
ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo..
.e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender aindaqual é melhor:
se é isto ou aquilo.






sábado, 7 de janeiro de 2012

Desejos de ano novo.... ainda dá tempo!!!

Quando começaram a falar sobre o aquecimento global, cuidar dos recursos não renováveis e a biodiversidade, desde então, muitas ações estão sendo feitas. Desde economizar água , fazer xixi no banho ( há quem discorde), usar menos produtos industrializados, separar lixo e promover de fato a reciclagem de materiais, são alguns dos inúmeros exemplos que podemos adotar numa lista de desejos de um ano novo.
Um ano novo mas com problemas antigos, então a ordem é mudar a forma de pensar, a forma de agir e mais TER ATITUDE.


Sacolas Retornáveis
Falo isso por experiência própria já que durante uns anos para trãs fui juntando sacolas retornáveis mas elas nunca foram comigo para o supermercado. Só lembrava delas quando as via penduradas na área de serviço. A partir daí tive um estalo e comecei a espalhar sacolas na bolsa, no porta luvas do carro e deixar no meu trabalho. Apareceu uma compra para fazer, elas estão lá a disposição agora.



Alimentos
Outra coisa que sempre vi na minha rotina de casa é que sempre joguei fora muitos alimentos, que ou comprei demais, ou passaram da validade, ou sei la’. Então hoje forçada também a me limitar a duas sacolas retornáveis, uma em cada ombro, procuro comprar menos. Economizo e me sinto muito melhor em não jogar alimentos fora por desorganizaÇão e indiciplina nas minhas compras.



Caronas
Esse ano que passou fiz muito uso de carona. Procurei deixar o carro em casa em alguns dias e ou fui caminhando, o que me ajuda na questão saúde ou peguei carona com quem ia para o mesmo lugar. Me senti muito bem afinal além de economizar combustível, diminuir a emissão de poluentes no ar, também pude conversar mais e fazer exercicios.


Plásticos na cozinha
Eu sempre tive mania de comprar potes de plastico para guardar comida na geladeira e esquentar no microondas. Estava errando nos dois sentidos. Usar plasticos faz mal. Aquecer comida neles pior ainda. Devagar estou abolindo os plasticos e partindo para o vidro. Durável e eterno.




Refrigerantes

Sei que isso é bem particular e que cada um cuida da própria saude mas é de senso comum que mesmo que seja imensamente refrescante o refrigerante, quer seja ele de cola, guaraná ou outro tipo contem gas e muito corante e conservante. Neste ano que passou conseguimos parar de comprar refrigerante para consumir em casa. Sem radicalismos, se estamos fora e só tem refrigerante a gente toma, mas agora só entra suco em casa. Estamos nos sentindo bem melhor!!!

Porque são pequenas atitudes, mas se somadas no total faremos a grande diferença. Por nós mesmos!!! São meus desejos, velhos desejos mas com o frescor de coisa nova.

O limoeiro estéril ou a mexeriqueira revoltada

Esse causo minha irmã já contou mas causo bom mesmo a gente conta de novo. E eu que sou da família dos contadores de causos vou fazer a minha parte.
Foi assim: durante anos a fio minha mãe tinha um jardineiro que cuidava do quintal e que teimava em chama-la de Dona Ines. E o nome de minha mãe era Marlene.
Então a gente se referia ao jardineiro por Dona Ines, num trocadilho de nomes que ele mesmo fazia confusão.
Um dia minha mãe cansada de esperar que o limoeiro que plantara quando recem mudamos, desse frutos, resolveu perguntar para o Dona Ines o que ele sugeria para que o pé desse frutos.
-Olha dona Ines, eu acho qeu a senhora devia dar uma surra na planta.
-como? Bater no limoeiro? Mas com o que?
-Ah, pega uma cinta e manda ver. Sova bastante ela que logo ela dá frutos. É tiro e queda.
Minha mãe desconfiou das orientações já que parecia mais um costume popular do que ter realmente fundamento cientifico. Acatou, resssabiada mas guardou a preciosa informação.
Um dia realmente se encheu de esperar pelos limões e pegou um pedaço de mangueira de água, e foi la no limoeiro e mandou ver.
Bateu sem dó. Alias, pensou ela, mal nao ia fazer. Sentir dor ele nao iria sentir... Até pesquisou que isso poderia estimular alguma seiva no seu caule e talvez fizesse sentido.
Passaram se algumas semanas e olha o que nos aparece no quintal...
Limões? Nào... Mexericas..


Talvez a árvore não dava frutos por estar extremamente revoltada de ser chamada de limoeiro.Era uma mexeriqueira.
Essa mexeriqueira dá frutos até hoje mas confesso que são como limões... azedas e impossiveis de serem degustadas.
Foi a desforra da planta!!!!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Procissão na madrugada com uma criança cansada.




Desde que fui anjo numa procissão, com meus 5 anos de idade, nunca mais participei de tal evento.
De longe eu era o anjo mais encardidinho. Isso mesmo, minhas vestes, assim acho melhor denominar do que fantasia, eram mais amareladas do que a dos outros anjos que compunham a frente da procissão.
É que quase para sair o cortejo, eu cheguei com meus pais na cidade. Era um feriado prolongado e minha família resolveu passá-lo em Pirangi. Minhas primas iriam participar vestidas de anjo e minha avó vendo a enrascada que estava envolvida, tratou de procurar algo para que eu também pudesse participar.
Em seus guardados de anos, acabou por achar de última hora uma roupa de anjo, por sorte do meu tamanho, porém bem amarelada pelo tempo. Eu criança que era , adorei o jeito que minha avó deu para que eu pudesse estrelar na procissão de anjo.

Lembro de Barrabás e da Verônica, uma moça de cabelos compridos que cobria também seu rosto.

...
O tempo passou e agora com um filho de cinco anos resolvi reviver a situação que tanto me marcara, participando com ele de uma procissào muito tradicional em minha cidade, que passava a noite em romaria até o distrito de Bonfim Paulista.
Já não iriamos tornar a vestir de anjo meu menino. Era para ele também vivenciar aquilo que para mim foi de grande valia.
A romaria era outra, na verdade era a procissão de Nossa Senhora Aparecida e mesmo meu marido não concordando, deixou nos à meia-noite na porta da Cãmara Municipal, local de saída e concentração dos fiéis.
Meu filho todo animado, para ele fazia muito sentido afinal estudara em colégio católico e rezar terços , aves marias e pai nossos eram muito rotineiro para ele.
Começamos o nosso caminhar e logo meu filho pediu colo. Mas estava muito cansada e logo eu quem resmunguei:
-Aguenta um pouco ai menino, estamos apenas começando o caminho.
Um senhor que estava ao nosso lado e tinha se curado de um grave problema na coluna, todo solicito se ofereceu para carregar o menino um pouco.
Fiquei com vergonha e ao mesmo tempo preocupada: Será que ele realmente havia sarado do problema?
-Pode ficar sossegada, é a prova que minha fé me curou! Vou carrega-lo até Bonfim.
E assim foi até começar a suar e com isso meu filho incomodado com seu braço melado e suor pingando pediu para descer.
Como já estava descansada peguei ele no colo e fomos ate próximos a vicinal do horto.
Lá já estavamos todos empenhados no terço e rezar padre-nossos e ave-marias era quase que uma cantilena.
Meu filho também já tinha decorado as oraçóes e foi junto com o coro fazendo sua parte.
O caminho realmente foi longo mas meio que protegidos pelas orações conseguimos chegar.
Os pés já nao sentia mais. Bolhas e dores por toda a planta do pé porém a fé e a vontade de chegar era tanta que nem sentiamos as dores direito.
O sol já começava a raiar quando chegamos em Bonfim Paulista. Logo na entrada já subimos uma rua bem íngrime e o senhor da coluna curada voltou a me ajudar com meu filho. Neste momento rezei mais pela coluna do senhor para que não voltasse a doer.
Neste momento avistamos a capela de Nosso Senhor do Bonfim e por lá era uma festa.
Revoada de pombas brancas e muitos fieis por lá nos esperavam com chá quentinho e bolacha maizena.
Para as crianças tinha bala e pirulitos.Meu filho sonolento entusiasmou-se com tantas guloseimas.
Sentamos num banco para assistirmos a missa tradicional e logo meu marido chegou para nos buscar.
Saimos de lá com a sensação de dever cumprido. Na verdade foi mesmo para relembrar uma procissão e para meu filho conhecer como existem várias formas de exercer a fé.
Uma grande experiência.