Era assim que quando crianças, escutavamos alguém pedindo assim que tocavam
a campainha de portão lá em casa.
-Sobrou comida?
Moravamos em um bairro que tinha em suas
cercanias algumas favelas, então era muito comum que ao entardecer essas
pessoas , crianças e adultos fossem passando de casa em casa pendindo por
comida.
Já levavam consigo um pote ou panela velha.
Todo sujo de comida ainda, pegavamos com um certo asco, já que cheirava muito
mal.
Meu pai já tinha nos instruido: lavem a vasilha
antes de colocarem a comida. E era nossa
função, lavar o vasilhame e buscar na panela ou na geladeira um pouco de comida
do almoço ou do jantar.
Fato muito comum para nós naquela época. E mais comum se tornava a nossa ação de dar
restos de comida que achavamos isso corriqueiro. Fato realmente aceitável na vida.
De lá mudamos para apartamento em outro bairro
mais central. Por lá já nao viamos tantos pedintes de resto de comida. Ou pela localização do bairro ou por ser
apartamento. Já nao sabia mais.
Mas continuava a ver crianças e adultos pedindo
não comida, mas dinheiro no semáforo das ruas que passava. Pensava que agora já
nao precisavam mais de comida.
Hoje morando em apartamento quase que nunca vejo pelas ruas e nunca mais
fui abordada para fornecer um jantar, um
prato de comida que fosse. A vida
verticalizada pelos prédios, zeladas
pelas guaritas dos condomínios inibe que pessoas necessitadas nos peça um prato
de comida.
Mas se perguntar: sobrou comida?
Sobrou. Sobra muita. Em toda casa sobra muita
comida. Jogamos comida boa fora todos os dias. Jogamos frutas, verduras e
legumes. Jogamos alimentos vencidos na nossa própria dispensa. Isso é de cortar
o coração. Porque quando falam que onde come um come dois, vou mais além. Onde
come uma família, come-se duas. Tamanha fartura que hoje vivemos, consumismo
exacerbado e falta de administrar nossa lista de compras e o quanto elaboramos
de alimentos na cozinha.
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