Ele estava na entrada da antiga oficina mecânica do meu avô. Estava todo destruído pelo tempo, cheio de teias de aranhas e por dentro ao invés de prateleiras, tinha em seu fundo , formas de ferramentas pintadas de preto com um prego no meio de cada uma delas para que fossem identicados os seus devidos lugares.
Foi amor a primeira vista. Talvez consiga contar com riqueza de detalhes como
um armário faltando porta, sem vidro e quase sendo posto para fora hoje
se tornou meu guarda livros.
Talvez naquele momento tenha resgatado ele do
lixo, seu próximo destino caso não tivesse sido descoberto.
Conta meu pai que esse armário, na verdade
guarda livros como chamava meu bisavô tinha sido encomendado a um marceneiro de
Pirangi.
Paulo Braga era um lavrador com bons hábitos de
leitura e para isso queria um armário adequado para guardar suas raridades.
Ficou muito tempo na sala de sua casa que
ficava no mesmo terreno que a casa de seu filho Mário Braga, pai do meu pai, ou seja meu avô.
Não sabe precisar ao certo quando ele saiu do
seu papel verdadeiro, o de guardar livros para servir de funçao de
ferramenteiro. Uma boa função também ,
que exerceu por anos a fio sem nunca ser descoberto.
Mas voltando ao momento em que foi salvo, ali enxerguei uma antiguidade, uma graciosidade que com função desviada
tinha que como uma luz vermelha pulsando mesmo que imaginariamente...
Fui rápida e assertiva.
- Lola, sabe aquele armário que está na oficina
do vô? Eu quero ele pra mim.
-Vá, pode pegar... mas está todo acabado. Deve
até ter cupim. Ta faltando uma porta viu...
-Eu quero mesmo assim. Vou mandar arrumá-lo.
E assim foi. Arrumei um transporte para
traze-lo com muito cuidado para minha cidade e quando ele definitivamente
desceu na garagem da minha casa, meu pai disse:
-Compensa arrumar?
-Eu creio que sim!!!
Logo o restaurador me trouxe todo pintado com
seus detalhes do entalhe em dourado e com a porta restaurada. Colocou vidros ,
jateados na borda e reforçou as pernas que estavam um tanto pendengas.
A partir daquele dia ele retomou sua atividade
original: guarda livros.
É nele que guardo meus livros profissionais que
mais tenho apreço. Tambem guardo por ele um imenso carinho, talvez o que mais
guardo. Ele foi do meu biso, e num dia de visita a Pirangi, consegui
enxergar nele seu verdadeiro papel , e acreditei que ele ia me
acompanhar quem sabe por quantas gerações forem sensíveis de enxergar a
grandiosidade de sua existência.
ah, q amorzinho!
ResponderExcluira poesia em suas palavras me enchem os olhos.
se o seu Mariano não quiser o guarda livros, certeza q a Olívia ou a Manuela irão querê-lo!
:o)