sexta-feira, 4 de maio de 2012

O guarda livros




Ele estava na entrada da antiga oficina mecânica do meu avô.  Estava todo destruído pelo tempo, cheio de teias de aranhas  e por dentro ao invés de prateleiras, tinha em seu fundo , formas de ferramentas pintadas de preto com um prego no meio de cada uma delas para que fossem identicados os seus devidos lugares.
Foi amor a primeira vista. Talvez  consiga contar com riqueza de detalhes como um armário faltando  porta,  sem vidro e quase sendo posto para fora hoje se tornou meu guarda livros.
Talvez naquele momento tenha resgatado ele do lixo, seu próximo destino caso não tivesse sido descoberto.
Conta meu pai que esse armário, na verdade guarda livros como chamava meu bisavô tinha sido encomendado a um marceneiro de Pirangi.
Paulo Braga era um lavrador com bons hábitos de leitura e para isso queria um armário adequado para guardar  suas raridades.
Ficou muito tempo na sala de sua casa que ficava no mesmo terreno que a casa de seu filho Mário Braga,  pai do meu pai, ou seja meu avô.
Não sabe precisar ao certo quando ele saiu do seu papel verdadeiro, o de guardar livros para servir de funçao de ferramenteiro.  Uma boa função também , que exerceu por anos a fio sem nunca ser descoberto.
Mas voltando ao momento em que foi salvo,  ali enxerguei uma antiguidade,  uma graciosidade que com função desviada tinha que como uma luz vermelha pulsando mesmo que imaginariamente...
Fui rápida e assertiva.
- Lola, sabe aquele armário que está na oficina do vô?  Eu quero ele pra mim.
-Vá, pode pegar... mas está todo acabado. Deve até ter cupim. Ta faltando uma porta viu...
-Eu quero mesmo assim. Vou mandar arrumá-lo.
E assim foi. Arrumei um transporte para traze-lo com muito cuidado para minha cidade e quando ele definitivamente desceu na garagem da minha casa, meu pai  disse:
-Compensa arrumar?
-Eu creio que sim!!!
Logo o restaurador me trouxe todo pintado com seus detalhes do entalhe em dourado e com a porta restaurada. Colocou vidros , jateados na borda e reforçou as pernas que estavam um tanto pendengas.
A partir daquele dia ele retomou sua atividade original: guarda livros.
É nele que guardo meus livros profissionais que mais tenho apreço. Tambem guardo por ele um imenso carinho, talvez o que mais guardo. Ele foi do meu biso, e num dia de visita a Pirangi,  consegui  enxergar nele seu verdadeiro papel , e acreditei que ele ia me acompanhar quem sabe por quantas gerações forem sensíveis de enxergar a grandiosidade de sua existência.

Um comentário:

  1. ah, q amorzinho!
    a poesia em suas palavras me enchem os olhos.
    se o seu Mariano não quiser o guarda livros, certeza q a Olívia ou a Manuela irão querê-lo!
    :o)

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