quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Procissão na madrugada com uma criança cansada.




Desde que fui anjo numa procissão, com meus 5 anos de idade, nunca mais participei de tal evento.
De longe eu era o anjo mais encardidinho. Isso mesmo, minhas vestes, assim acho melhor denominar do que fantasia, eram mais amareladas do que a dos outros anjos que compunham a frente da procissão.
É que quase para sair o cortejo, eu cheguei com meus pais na cidade. Era um feriado prolongado e minha família resolveu passá-lo em Pirangi. Minhas primas iriam participar vestidas de anjo e minha avó vendo a enrascada que estava envolvida, tratou de procurar algo para que eu também pudesse participar.
Em seus guardados de anos, acabou por achar de última hora uma roupa de anjo, por sorte do meu tamanho, porém bem amarelada pelo tempo. Eu criança que era , adorei o jeito que minha avó deu para que eu pudesse estrelar na procissão de anjo.

Lembro de Barrabás e da Verônica, uma moça de cabelos compridos que cobria também seu rosto.

...
O tempo passou e agora com um filho de cinco anos resolvi reviver a situação que tanto me marcara, participando com ele de uma procissào muito tradicional em minha cidade, que passava a noite em romaria até o distrito de Bonfim Paulista.
Já não iriamos tornar a vestir de anjo meu menino. Era para ele também vivenciar aquilo que para mim foi de grande valia.
A romaria era outra, na verdade era a procissão de Nossa Senhora Aparecida e mesmo meu marido não concordando, deixou nos à meia-noite na porta da Cãmara Municipal, local de saída e concentração dos fiéis.
Meu filho todo animado, para ele fazia muito sentido afinal estudara em colégio católico e rezar terços , aves marias e pai nossos eram muito rotineiro para ele.
Começamos o nosso caminhar e logo meu filho pediu colo. Mas estava muito cansada e logo eu quem resmunguei:
-Aguenta um pouco ai menino, estamos apenas começando o caminho.
Um senhor que estava ao nosso lado e tinha se curado de um grave problema na coluna, todo solicito se ofereceu para carregar o menino um pouco.
Fiquei com vergonha e ao mesmo tempo preocupada: Será que ele realmente havia sarado do problema?
-Pode ficar sossegada, é a prova que minha fé me curou! Vou carrega-lo até Bonfim.
E assim foi até começar a suar e com isso meu filho incomodado com seu braço melado e suor pingando pediu para descer.
Como já estava descansada peguei ele no colo e fomos ate próximos a vicinal do horto.
Lá já estavamos todos empenhados no terço e rezar padre-nossos e ave-marias era quase que uma cantilena.
Meu filho também já tinha decorado as oraçóes e foi junto com o coro fazendo sua parte.
O caminho realmente foi longo mas meio que protegidos pelas orações conseguimos chegar.
Os pés já nao sentia mais. Bolhas e dores por toda a planta do pé porém a fé e a vontade de chegar era tanta que nem sentiamos as dores direito.
O sol já começava a raiar quando chegamos em Bonfim Paulista. Logo na entrada já subimos uma rua bem íngrime e o senhor da coluna curada voltou a me ajudar com meu filho. Neste momento rezei mais pela coluna do senhor para que não voltasse a doer.
Neste momento avistamos a capela de Nosso Senhor do Bonfim e por lá era uma festa.
Revoada de pombas brancas e muitos fieis por lá nos esperavam com chá quentinho e bolacha maizena.
Para as crianças tinha bala e pirulitos.Meu filho sonolento entusiasmou-se com tantas guloseimas.
Sentamos num banco para assistirmos a missa tradicional e logo meu marido chegou para nos buscar.
Saimos de lá com a sensação de dever cumprido. Na verdade foi mesmo para relembrar uma procissão e para meu filho conhecer como existem várias formas de exercer a fé.
Uma grande experiência.

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