quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Os que consolam


 
Créditos para Clarissa Cimati

Receber um consolo é algo natural, necessário e involuntário. Se a dor da perda de quem amamos é dilacerante, quem consola pode ter o poder de amenizar, de paralisar ou mesmo de confundir nosso processo de luto.

Divido os que consolam em quatro grupos:

Os que nunca perderam ninguém, então fogem, somem, nem sequer sabem se aproximar ou dizer palavras amáveis. Entendo porque já passei por esse grupo. Nem sequer ia num velório, que dirá na missa de sétimo dia.

Os que nunca perderam alguém mas se colocam na nossa pele.  E ligam,  perguntam , se preocupam. Confesso que por esse grupo tenho uma imensa ADMIRAÇÃO.. gostaria de ter sido assim, mais sensível a dor do próximo.

Os que perderam alguém e se sensibilizam com sua dor, sabem o que está sentindo:  te olham na alma. Ou melhor, olham o rombo no seu coração e só de olhar te entende. Te abraça com a mesma intensidade, entram na sua sintonia e te CONSOLA. Só no olhar.

Os que perderam alguém, mas  estão tão doloridos pela vida que dizem: vai ver...cada dia é pior. A saudade só aumenta. Vai ver no Natal... Eu considero esse o grupo mais difícil de encarar... eles sim atrapalham o processo do luto, antecipam nossa dor, confundem nosso sentimento. Deixam pior a situação.


Elaborar um luto é um processo delicado, íntimo e pessoal. Cada um sabe onde a dor pegou mais.   A minha pegou no crepúsculo, pegou no dia-dia, pegou na culpa de não ter conseguido salvá-la. Levei exato um ano para elaborar a perda da minha mãe. Ela se foi de forma  "De REPENTE" . Um dia nos falamos, no outro teve um mal estar e se foi. Sua morte foi uma morte linda, devo confessar isso. Ela realmente foi merecedora de ter ido sem sofrimento. Quem sofreu e ainda sofre somos nós sem sua presença física.

Mas hoje consigo ser grata a Deus. Por ter tido ela por trinta e seis anos. Por ter sido educada por ela. Gratidão por ter me dado a vida. Por muitos momentos de alegria quem passamos juntas.

E hoje, por ter passado por um luto, sou diferente. Me viro, corro ,dismarco tudo para ir a um funeral de alguém querido. Só não compareço se não posso mesmo.

Também me coloco no terceiro grupo, de abraçar e respeitar a dor dos que ficaram e entender que essa dor é a pior dor que possamos sentir. E sei que ela passa. Mas me coloco ali, mais físico mais companhia do que palavras! Tem hora que palavras não são suficientes. O sentimento é mais!

E o dente caiu...


 

Essa história de todo mundo ter perdido o dente la na classe dele estava incomodando a criança.  Nem adiantava vir com blábláblá. Ele queria perder um também! Afinal não era a época de todas as crianças de 6 anos perderem os dentinhos?

Deixamos por um tempo esse papo de dente mole de lado. Mas um belo dia, um dentinho lá de baixo começou a querer amolecer.

Foram alguns meses de empurra-empurra até ele ficar muito abalado quase caindo.

Mas nada. Ora lembrava, ora esquecia.

De vez em quando vinha me falar:

- Fada do dente mesmo só no filme. Quero so ver se ela existe mesmo viu mãe! Porque eu aceito só nota de cem reais.

E eu então nem cogitei em por moedas nem cédulas quando o dente caísse.. Afinal para cada dente 100 reais estaria mais era endividada.

Bom. O tempo passou e outro dia, precisamente na hora do almoço ele começou a mexer no dente mole.

E vai, volta, vai e  volta.

-Deixa eu ver filho?

A hora que olhei tava querendo sangrar. Ótimo sinal. Já quase era a hora.

Como estava assistindo ao jornal fiquei meio entretida com  as informações. De repente:

-Caiu! Caiu o dente mãe!

Como sou mãe festeira, quase beirando a algazarrenta, comecei a gritar, viva-viva e dar um abraço apertado beijando as bochechas fofas dele.

-Dá ele aqui. Eu que lavo pra não ter perigo de cair no ralo.

-Tá... com a maior calma do mundo.

-Vem vamos bochechar com agua oxigenada.

Abri a torneira e joguei agua com a mão.

Ploft... o dente escorregou com a foça da agua e caiu no ralo.

Atônita, abaixei em baixo da pia e desatarraxei o sifão.

Era agua suja, muita borra verde, que depois descobri ser bactérias saprófitas e no fundinho eis que vejo o dentinho.

-Isso porque você pediu pra lavar senão caia ne mãe.

Isso mesmo... levei um sabão com classe. Mas estava tão emocionada que nem liguei . O ato foi bem anti-pedagógico.

Mas depois de separar as partes escatológicas do dente, higienizei com bastante desefetante, lavei bastante a mão e fomos para a escola.

Nós dois em estado de alfa. Felizes. Por ter perdido o primeiro dente...

Vai entender a alma de uma mãe...vai!