quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Vó Nina


Ela usava um lencinho na cabeça e sempre tinha uma chaleira fumegando no fogão a lenha. Ele nunca era apagado. O cheiro da lenha queimada era peculiar dentro da sua casa. No guarda-comida da cozinha tinha louças, poucas. E tinha uma lata com gravuras da Caça a raposa, e dentro bolachas maizena. Eram as melhores que eu já comi na minha vida.

O café ainda morno coado no filtro de pano gotejava no bule. Sempre com afazeres da casa, era doce e ao mesmo tempo firme. Mulher de fibra, talvez uma fibra que hoje não é tão valorizada. Mas uma mulher que acordava cedo, tomava conta do que os olhos alcançavam. Naquela época as crianças eram criadas no quintal.

Vó Nina era minha bisavó paterna. Sempre falante, era a segunda casa que visitavamos ao chegar em Pirangi. Primeiro da Lola, minha avó, depois a dela. Lá a gente se espalhava a visitar desde o banheiro até os quartos na tentativa de achar algum brinquedinho ou algo para nos distrair. Na sala viamos a teve encima da estante e na cristaleira várias lembrancinhas de casamentos e ´nascimentos.

Era assim.
Saudade infinita daquela época de Vó Nina

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Sinal de mudança na mudança do sinal




No sinal verde avançamos  e o  vermelho avisa que precisamos parar. Mas é o amarelo que  chama a atenção para a mudança. E é nele que num dado momento da vida, nas fases mais primeiras, aceleramos com tudo, na tentativa de termos a passagem livre.

Nesta muitas vezes arriscamos a vida, o tempo e a segurança. Nesta fase temos necessidade de passarmos no amarelo. A vida pede, o tempo corre e o compromisso sempre nos parece inadiável, imperdível,   seja ele qual for.

É a fase da correria, do último momento, dos atrasos e do se doar por inteiro, ser inteiro para a vida e no tempo que a vida corre.

E o amarelo da vida acende...

De repente, sem ao menos avisar, cada um , bem particularmente sente um sinal de mudança no amarelo  do semáforo e da vida.

Já não compensa transpor o amarelo, por meio minuto, por em risco toda uma vida, as vezes na carroceria temos um  filho, ou um animalzinho, e todo cuidado é pouco.

Não vai ser correndo que chegaremos lá. Seja onde for,  o amarelo pede calma. Nesta fase já não atravessamos mais a rua entre os carros, procuramos a segurança da faixa, sabemos que ali é o lugar correto.

E neste momento de transição, de mudança interior, tudo se reorganiza intimamente. Já não há mais espaço para disparar sem pensar, sem calcular riscos e perdas, os ganhos da tranquilidade são maiores e mais duradouros

A serenidade inunda a alma , talvez tenha a cor amarela, do sinal mesmo, que nos mostra o quanto esse rito de passagem para uma fase mais amena e madura é o lugar  que ficaremos  por tempos. A maturidade é  a existência desta tranquilidade plantada no amago de cada um.

E cada um, vai perceber, sentir e sinalizar quando a mudança do sinal vai ser o sinal da mudança.