quinta-feira, 30 de junho de 2011

Algo sui generis…



Sempre me pergunto o porquê de as vezes fazermos parte de alguma história de vida apenas por estarmos ali, na retaguarda ou mesmo de espectadores só na observação.
E o porque que certos assuntos me dão muita inspiração para escrever meio que como querendo dividir essas experiências que passo como espectadora mas que mexem profundamente com meu âmago.
São histórias que começaram tristes mas que num dado momento, sem que fosse marcado hora e lugar tudo mudou. Primeiro mudou a forma de cada integrante da história enxergar a situação e sem menos esperar o desfecho acontece culminando uma felicidade que transborda o coração embora seja invisível aos olhos.
Ressalva, aos olhos de quem não enxerga com o coração.
Essa história é de uma família que tinha uma vida dentro da normalidade até que, o filho mais novo teve um grave problema de saúde. E nas pesquisas diagnósticos foi detectado uma série de alergias alimentares. Aos olhos de quem só escuta ou lê isso é apenas uma série de restrições.
Mas para a criança que é alérgica a proteína do leite, acaba sendo tolida de ingerir não só o leite, mas por exemplo não pode comer um bolo , um pão de queijo, uma macarronada com molho branco e mesmo ir a uma lanchonete , local de desejo de qualquer criança.
Então a família se adaptou, e a mãe , uma pessoa de tamanha candura e seriedade aprendeu o que podia e o que não podia ser consumido pela criança.
Suas vidas foram profundamente mudadas porque num simples aniversário de amiguinho, muitos docinhos e salgadinhos, comuns em festas assim, nunca foram provados pela criança.
Isso gera realmente um stress , uma tensão pois por mais que essa criança fosse consciente , responsável , e apenas tendo 3 ou 4 anos, consideremos a vontade infantil.

Se a gente que é adulto saliva de vontade ao ver um doce na vitrine da padaria, imagina uma criança tolida de provar delicias, quitutes dos mais variados sabores e cores, que realmente saltam aos olhos.
Pois bem, como a maioria das alterações em crianças podem ser revertidas, a do menino em questão também foi.
Chegou a hora dele, já condicionado a não ingerir o que antes era toxina, provar de delícias outrora proibidas.
E agora vem o que para mim, foi o mais emocionante de toda essa história.
Quando ele pode experimentar um brigadeiro, seus olhos brilharam e o relato que deu a sua mãe ficará para sempre em meu coração:
- Mãe isso aqui é a coisa mais maravilhosa que eu já comi!!!
Pense nisso com a alma infantil, com a nossa criança interior!!!! Algo sui generis...
E segundo a mãe, nunca mais tirou um largo sorriso dos lábios.
A criança ou a mãe? Ambos!!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

As Bactérias




Um belo dia fui apresentada para as bactérias formalmente pela minha mãe. Na verdade ela estava preocupada com minhas mãozinhas sujas próximas do meu irmão bebezinho na época e quis me dar uma aula introdutória sobre esses seres microscópicos.
Naturalmente eu já havia provado a existência delas nas minhas amigdalites ,otites e a culminância foi quando fiquei rosada pela escarlatina. Detalhe que peguei esssas bactérias nadando inocentemente num riachinho de uma cidade do interior que há poucos metros dali boiava um porquinho morto em decomposição.


Mas neste dia em que minha mãe me explicou sobre os bichinhos minúsculos (microscópicos ) e invisíveis, talvez ela nem imaginasse como eu reagiria a tamanha informação. Ou a minúscula mas assustadora informação para uma criança de apenas 4 anos.
Depois de me falar que as bactérias ficavam no ar e em toda a superfície em que tocavamos, ainda bem que ignorei o ar pois teria dado pane naquela cabecinha... eu entendi a importância da lavagem das mãos.
Hoje em dia é a maior barreira contra a contaminação. Mamãe já previu isso ha mais de trinta anos .
Mas como criança tem uma imaginação muito fértil após a assepcia eu fechava a torneira com os cotovelos e abria a porta com o pulso. Nem eu mesma consigo entender como fazia isso.
Na minha fantasia, só as maos deveriam estar imunes e assepticas. Limpas para não contaminar com bactérias nocivas que causavam dor de garganta, dor de ouvido e dor de estômago nas crianças.
E assim eu me mantive integra e fiel ao ensino de minha mãe nem mesmo relando no bico da mamadeira ou na chupeta do meu irmão.
Bonecas e brinquedos que caiam no chão tinham que ser limpos com água e sabão para que as bactérias não sujassem minha brincadeira.
Também foi nesta época que larguei os meus hábitos de sucçào inadequados, a chupeta e a mamadeira. Meu pediatra também reforçou a importancia de deixa-los longe de minha boca afinal a noite as minhas sete chupetas caiam no chão e se enchiam de bactérias. Até mesmo aquela que eu gostava de passar no dedão do pé ficou menos atraente depois do reforço bacteriúrico do pediatra.
Pronto. Estava munida de muita informação microscópica e bastante neurose para me livrar.
Com o tempo esse furor bacteriano passou. Consegui me livrar da chupeta, a mamadeira ficou para anos mais tarde, e logo voltei a ser uma criança normal, desligada de hábitos tão neuróticos de higiene.
Até que minha mãe me pegou numa manhã chupando o chiclete que na noite anterior havia jogado no jardim.
Filha!!! Já te falei que está cheio de bactérias?
Cuspi a goma de mascar e fui tratar de organizar minhas bonecas. Já havia deletado tamanha carga de informação para tão pequena criatura.
Hoje não menosprezo os streptococos nem mesmo os estafilococos. Até ja tive vontade de apresentar as Sclerichia Coli para meu filho. Mas pensei : bobagem.Deixa esses seres serem descobertos na aula de laboratório. Menos assustador e mais pedagógico.
Só ensinar a lavar as mão já basta.

Chamando na Xinxa

Samy Braga
Esse é um termo que escutei a minha infância e adolescencia inteira. Quando meus pais se aborreciam comigo ou meus irmãos , se estavamos passando dos limites, logo um deles vinha e falava:
- Vou te chamar na Xinxa menina!!!
Sei lá quem era a Xinxa. Mas a gente tinha um medo imenso dela. Confesso que fiquei esperando essa Xnxa durante tanto tempo, até que percebi que nao era alguém, uma mulher autoritária mesmo que fosse alegórica , uma super nanny da época.
Comecei então a pensar que Xinxa era algum local. Então quando minha mãe me dizia vou te chamar na xinxa ja imaginava um lugar para se levar um sabão. Nesta fase da Xinxa pensava muitas coisas... Que lá na Xinxa iamos levar uns cascudos, ou um celeiro com muito sabugo de milho para ajoelhar e pedir perdão para os pais, ou mesmo o local de levar uns bons pitos ou mesmo onde os pais nos levavam para algumas palavras de reorganização de comportamento.

Mas também não era lugar. Mais pra frente lá na adolescência já imaginava ser Xinxa a consciência. Entao quando ela nos chamava na xinxa eu tinha uma imensa vontade de rir, por mais que a situação pedisse seriedade.
Afinal porque denegrir a imagem da Consciência? Esta entidade que podia ser individual, coletiva ou mesmo cósmica estava a se submeter aum apelido tão pejorativo: XINXA?
Então o tempo foi passando, eu sempre sendo chamada na xinxa por muitas vezes, mas a xinxa que era tão grande para mim, que já passara de uma mulher, de um lugar e mesmo a consciência passou a ser um termo , uma forma de falar , um desabafo de mãe e pai que está precisando de tempo, tranquilidade e de respeito diante dos comportamentos infanto-juvenis.


Então me tornei mãe, e me pego passando para a geração seguinte o termo Xinxa, quando chego para meu filho num momento em que está fazendo pirraça ou pegando fogo na casa de algum amiguinho:
Vem cá que vou te chamar na Xinxa....
Até que ele passe por toda essas etapas de saber quem, local ou o que realmente é, vai tempo, mas deixo para a imaginaçãozinha dele entender e compreender quem é essa tal de Xinxa que merece tantas vezes ser chamada....
Só sei que resolve que é uma beleza!!!!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Sobre o bem oculto em situações difíceis


Então tendo lido o livro Picos e Vales, onde a tônica é a forma de ver os vales em que estamos vivendo ou saber viver nestes vales até atingir novos picos sabendo que picos e vales são eventos normais em nossas vidas, a máxima é o bem oculto que existe nos vales...

E para ilustrar esta situação, quero contar uma história verídica de um senhor que era fruteiro que cabe perfeitamente nesta mensagem do livro.
Ele era um fruteiro e aproveitava do acostamento de um pontilhão para estacionar sua caminhoneta e vender suas frutas e legumes fresquinhos aos moradores e demais veículos que por ali passavam , num longuínquo bairro de Ribeirão Preto.

Apesar de ser proibido, do transtorno que causava, já que os veículos se amontoavam também no acostamento para estacionar e comprar, ele fazia uma grande diferença na vida corrida que todos ali viviam...Saber que no meio do caminho poderia passar para comprar bananas ou a cebola que estava faltando em casa minimizava qualquer transtorno.

E assim foi por anos a fio. Seu Celso também fazia por merecer, não tinha feriado nem dia santo, sábado e domingo era dia de trabalho. Tratava a todos com cordialidade e as crianças sempre ganhavam uma banana, ja descascadinha, de brinde. Por favor e obrigado era seu vocabulário tradicional.

Um belo dia, como sempre ocorre nas tradicionais histórias, alguém, de certo algum comerciante das redondezas, denunciou o fruteiro e a vigilância apreendeu tudo: frutas, caminhonete e o fruteiro junto.
Eu não vi, mas quem viu diz que foi uma cena desoladora, afinal aquele senhor tinha cativado cada um que se tornara cliente.
Agora vejamos o bem oculto que existe nesta vale imenso, nesta “maldade” que lhe fizeram.

Não contentes de perder o fruteiro, os moradores daquele bairro, ajeitaram em um terreno próximo a guarita, uma área para ele se instalar.
Agora não mais ficaria na ilegalidade, e mais, construiram rusticamente, a banca das frutas, com madeira, telhado, os caixotes agora se encaixam em prateleiras, havia lugar para estacionar os carros, num espaço com pedra britada. Esta nova frutaria ficava embaixo de árvores sombrosas, e nenhum carro agora atrapalharia o trânsito local.

Se não fosse o vale da denúncia , Sr Celso não teria atingido esse pico que acredito eu, nem nunca ter imaginado em sua vida...Ou teria!!! Quem sabe dos próprios sonhos é o sonhador!!!!

O pano verde da Nossa Senhora


Minha mãe contava que quando ela era moçinha e conversava com suas irmãs sobre parto, sempre rolava um medinho sobre esta hora. Medinho vírgula, medão.
E que tinha uma irmã dela, que falava para todas: nada menina, na hora do parto nossa Senhora põe um pano verde que tampa tudo.

E minha mãe ficava a pensar como era mesmo essa coisa de pano verde da Nossa Senhora.
Bom, nem preciso falar que depois de madura, ela entendeu que o pano verde era os médicos que colocavam para separar a parturiente do campo cirúrgico. Porque salvo raras excessões ninguem ogsta de ver bisturi elétrico, sangue, incisão , água do parto e sim só ver o nenê se possivel bem limpinho já com a touca do hospital!!!

Santo, no caso do parto, são os médicos que delicadamente isolam o hemicorpo da paciente para conseguirem realizar seu trabalho e deixar a mamãe mais tranquila sem ver o que tem por dentro, o que não é necessário.

E assim é o imaginário popular. Atribiuir ao sobrenatural , ao fantástico , ao santo, ao guia espirtual. Na verdade é uma alusão a fé, mas na verdade cada situação precisa realmente ser analisada para entendermos o porque daquilo acontecer.
E assim também podemos elencar: o homem do saco ( alusão aos mendigos que carregam seus poucos pertences em um saco de estopa) para assustar crianças fogueteiras; a loira do banheiro ( figura imaginária e lendária ) para que as meninas não mais ficassem passeando pelos banheiros escolares em horário de aula, e outros tantos que vem na nossa lembrança.

Se antigamente precisávamos utilizar destes meios para diminuir nossos medos, ou incitar medos nas crianças hoje a coisa está bem diferente.
Hoje tanto nós adultos quanto as crianças somos questionadores e queremos saber a origem de toda a história que nos é contada.

Penso que seja ótimo sermos assim, afinal tirando os dogmas e crenças religiosas que respeito muito, tem coisa que deve se manter apenas nos templos e como lenda mesmo. O melhor é sabermos a verdade e assim sermos livres e não passarmos por ridículo acreditando em crendices e no sobrenatural.
Samy Braga