domingo, 20 de maio de 2012

Sob nova direção


Juro que quando vejo uma faixa assim,  num local já conhecido,  imagino quase que seja quase que  um protesto, um convite para ver que tudo está mesmo di-fe-ren-te!!!
Assim como um dia tinha uma faixa numa padaria com os seguintes dizeres: vende esse negócio. Pausa para imaginar que o dono que quer vender, na verdade foi orientado pelo pintor da faixa a colocar negócio ao invés de joça.

Talvez tenhamos mesmo que maquiar, deixar mais deglutível certas situações em que socialmente temos que prestar contas.
Mas  voltando a faixa de Sob nova direção,  penso que muitas vezes vejo essa faixa quase que invisível nas testas de algumas pessoas.
É que as vezes precisamos dar nova direção a vida, ao caminho que temos que trilhar e dar mesmo sentido a nossa existência.
Quando a gente não é convidado a mudar, através dos convites forçosos da vida, também podemos optar,  como que uma última aposta, uma última sacada, um último insight para dar outro rumo de direção daquilo que  nos é o mais importante... nossa vida.

Vejo isso nas mulheres que ao se separar,  se antes eram desleixadas, gordinhas e esquecidas, ficam todas lindas,  com o cabelo brilhante e um ar que nenhum plástico consegue colocar na face a não ser a felicidade genuina por si só.
Ou também em alguém que resolveu começar a dieta e mesmo aos trancos e barrancos vai tentando e por fim consegue mudar a silhueta fazendo as pazes com o espelho.
Alguém que resolveu apostar num negócio novo, num estudo diferente, ou mesmo em assumir uma nova religião ou opção sexual.
Porque ser feliz é o nosso destino. Nunca a infelicidade. Se estamos infelizes a direção está errada. A direçao-norte-e-sul e a direção-gerência .A gestão da vida está comprometida. E só um gerente pode ajudar...o seu gerente interior. 

Sei que cada um tem o seu momento, mas adoro quando vejo em testas andando por ai a tal faixinha mostrando que se antes o negócio não estava dando certo, agora o convite para conhecer o novo-antigo empreendimento é mais do que interno. É  uma condição intrínseca, única e íntima!!!


sábado, 12 de maio de 2012

Sublimando o dia das mães…




 Minha mãe partiu há um ano, em março de 2011. Foi uma grande dor, já que de repente sem ao menos avisar nem se despedir, ela  teve um mal estar que não foi possivel salva-la  nem com duas ambulãncias na porta de sua casa.
Demorei um ano para me recuperar do susto e da sua ausência física.  Entendo que o luto precisa ser elaborado e nada melhor do que chorar e chorar a cada crepúsculo, hora do dia que é demais angustiante.
Hoje,  sinto sua falta, mas quando a saudade aperta rezo por ela e sei que ela olha por mim e pela minha família: marido, filhos e netos  Ela era uma pessoa querida por todos:  poetisa, professora nata e boa mãe e avó.
Ela também me ensinou a não vangloriar datas como esta que se aproxima, o dia das mães. Como professora e cristã que era sempre disse que dia da mães é todo dia...
Mas é incrível como quando a falta física acontece a gente se apega nestas datas para relembrar e as vezes chorar a ausência de tão querida genitora.
No ano passado, o dia das mães estava muito recente sua partida, e no almoço do domingo das mães colocamos um vaso de flor no lugar da mesa em que costumava sentar. Foi muito triste.
Mas esse ano eu meio que sem querer estou enxergando e porque não sublimando essa data dedicada ao nosso primeiro amor, aquela que nos abrigou no ventre e depois no coração, de forma diferente.
É  que há cerca de três meses conheci uma senhora acamada com sérios problemas motores que também perdeu sua mãezinha há pouco tempo.
Ela ainda chora todas as tardes sentindo a falta da mãe que sempre cuidou e zelou por ela.Quantas vezes estive com ela e  a dor que ela sentia eu podia imaginar.
Várias vezes disse a ela que entendia porque tinha passado por isso há pouco tempo e sabia, que com a ajuda do tempo, essa dor ia se amenizando e se ajeitando dentro do coraçao.
Mas como o dia das mães estava se aproximando, e ela nessa tristeza toda natural de quem elabora um luto, me senti motivada a fazer algo  por ela.
-Sua mãe gostava de flores?
-Sim, das vermelhas em especial.
Era a dica que precisava.
Não, não estava querendo saber sobre flores para ir ao cemitério depositar flores na lápide da sua querida maezinha.  Embora respeite quem faz esse nobre gesto, não  tenho esse hábito. Cemitérios são demais tristes para visita-los em data tão especial. E sei que ali estão restos mortais apenas. Sua essência, alma, espírito como cada um denomina está bem longe dali.
Então levei tulipas , as mais lindas que tinha á disposição e na sexta feira a tarde, entreguei a ela, a filha chorosa pela falta da maezinha.
-Vamos fazer uma oração pela sua mãe e você vai abrir seu coração dedicando a ela essa flor e todo seu carinho.
E foi uma emoção, ela mesmo com toda a sua dificuldade motora para falar, rezou um Pai-Nosso , entre lágrimas e agradeceu todo o amor que a mãe tivera dispensado a ela durante toda sua vida.
...
Sai de lá sentindo uma enorme paz. Sei que essa prece também foi para minha querida mãe sabe o quanto sou grata pela oportunidade de vida que me deu,  pela conduçao na educação e pelos seus exemplos dignos.
Não vou levar flores em sua lápide. Nao acredito que ela esteja la. Mas também vou comprar um lindo vaso e dedicar a ela. Com todo o meu amor. Hoje e sempre!!!!

segunda-feira, 7 de maio de 2012

O sanfoneiro da porta do Mercado





Outro dia,  ia  apressada pelo caminho que habitualmente faço  do  trabalho até pegar meu filho na escola Era tarde e estava  cansada apos um longo dia. Jjá acostumada às músicas que o sanfoneiro cego da porta do mercado sempre tocava, desta vez tive um sobressalto.
A música tinha mudado. Mas não era qualquer música. Era uma música alegre e com acordes bem conhecidos. Era... Noite feliz.  E como um ato contínuo critiquei mentalmente o músico de rua pois estávamos em abril.  Mais perto da Páscoa do que do Natal.
Pensei, precisam avisar ele que o Natal já foi ou ainda virá. Mas logo em seguida me veio a voz da consciência. Confesso que gostaria que ela me falasse mais vezes.
Porque só tocar músicas de Natal em época de Natal? Se o significado da data remonta ao nascimento daquele que foi o filósofo dos filosofos,  o mestre, o meigo Rabi?
Agora já estava confortavelmente me sentindo a moça mais cristã da redondeza ao aceitar intimamente que se tocasse Noite feliz fora do período natalino.
Deveríamos tocar e cantar mais vezes noite feliz e  bate o sino... Mas o que incomodva ainda era algo que depois me pareceu para lá de mágico. Até então eu enxergava sim o cego da esquina do mercado como parte integrante do meu cenário cotidiano. Nada mais que isso.
Agora ele fazia parte de um seleto grupo de pessoas anônimas que cresciam no meu conceito cristão considerando a singeleza do ato assim como espalhando através de notas musicais um pouco do que Jesus viera nos trazer.
Sei que tudo isso se passou em minutos já que não pude parar para refletir ou mesmo sentar em alguma mureta de loja ou encostar em alguma marquise para apreciar tão linda sinfonia.
Alias,  nunca imaginei que músicas natalinas ficassem tão belas tocadas numa sanfona.
Já estava tarde, era hora de dar continuidade nos cuidados familiares e me perdi entre pensamentos dos meus afazeres domésticos.
Quase todos os dias, faça chuva ou faça sol, estando mais frio do que o ribeiraopretano possa agüentar, o cego sanfoneiro esta sempre lá, sempre com seu sorriso nos lábios tocando sua sanfona lindos acordes para quem quiser ou estiver disperto a escutar tão lindos ensinamentos.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

O guarda livros




Ele estava na entrada da antiga oficina mecânica do meu avô.  Estava todo destruído pelo tempo, cheio de teias de aranhas  e por dentro ao invés de prateleiras, tinha em seu fundo , formas de ferramentas pintadas de preto com um prego no meio de cada uma delas para que fossem identicados os seus devidos lugares.
Foi amor a primeira vista. Talvez  consiga contar com riqueza de detalhes como um armário faltando  porta,  sem vidro e quase sendo posto para fora hoje se tornou meu guarda livros.
Talvez naquele momento tenha resgatado ele do lixo, seu próximo destino caso não tivesse sido descoberto.
Conta meu pai que esse armário, na verdade guarda livros como chamava meu bisavô tinha sido encomendado a um marceneiro de Pirangi.
Paulo Braga era um lavrador com bons hábitos de leitura e para isso queria um armário adequado para guardar  suas raridades.
Ficou muito tempo na sala de sua casa que ficava no mesmo terreno que a casa de seu filho Mário Braga,  pai do meu pai, ou seja meu avô.
Não sabe precisar ao certo quando ele saiu do seu papel verdadeiro, o de guardar livros para servir de funçao de ferramenteiro.  Uma boa função também , que exerceu por anos a fio sem nunca ser descoberto.
Mas voltando ao momento em que foi salvo,  ali enxerguei uma antiguidade,  uma graciosidade que com função desviada tinha que como uma luz vermelha pulsando mesmo que imaginariamente...
Fui rápida e assertiva.
- Lola, sabe aquele armário que está na oficina do vô?  Eu quero ele pra mim.
-Vá, pode pegar... mas está todo acabado. Deve até ter cupim. Ta faltando uma porta viu...
-Eu quero mesmo assim. Vou mandar arrumá-lo.
E assim foi. Arrumei um transporte para traze-lo com muito cuidado para minha cidade e quando ele definitivamente desceu na garagem da minha casa, meu pai  disse:
-Compensa arrumar?
-Eu creio que sim!!!
Logo o restaurador me trouxe todo pintado com seus detalhes do entalhe em dourado e com a porta restaurada. Colocou vidros , jateados na borda e reforçou as pernas que estavam um tanto pendengas.
A partir daquele dia ele retomou sua atividade original: guarda livros.
É nele que guardo meus livros profissionais que mais tenho apreço. Tambem guardo por ele um imenso carinho, talvez o que mais guardo. Ele foi do meu biso, e num dia de visita a Pirangi,  consegui  enxergar nele seu verdadeiro papel , e acreditei que ele ia me acompanhar quem sabe por quantas gerações forem sensíveis de enxergar a grandiosidade de sua existência.

Sobrou comida?





Era assim que quando crianças,  escutavamos alguém pedindo assim que tocavam a campainha de portão lá em casa.
-Sobrou comida?
Moravamos em um bairro que tinha em suas cercanias algumas favelas, então era muito comum que ao entardecer essas pessoas , crianças e adultos fossem passando de casa em casa pendindo por comida.
Já levavam consigo um pote ou panela velha. Todo sujo de comida ainda, pegavamos com um certo asco, já que cheirava muito mal.
Meu pai já tinha nos instruido: lavem a vasilha antes de colocarem a comida.  E era nossa função, lavar o vasilhame e buscar na panela ou na geladeira um pouco de comida do almoço ou do jantar.
Fato muito comum para nós naquela época.  E mais comum se tornava a nossa ação de dar restos de comida que achavamos isso corriqueiro. Fato realmente  aceitável na vida.
De lá mudamos para apartamento em outro bairro mais central. Por lá já nao viamos tantos pedintes de resto de comida.  Ou pela localização do bairro ou por ser apartamento. Já nao sabia mais.
Mas continuava a ver crianças e adultos pedindo não comida, mas dinheiro no semáforo das ruas que passava. Pensava que agora já nao precisavam mais de comida.
Hoje morando em apartamento  quase que nunca vejo pelas ruas e nunca mais fui abordada para  fornecer um jantar, um prato de comida que fosse.  A vida verticalizada pelos prédios,  zeladas pelas guaritas dos condomínios inibe que pessoas necessitadas nos peça um prato de comida.
Mas se perguntar: sobrou comida?
Sobrou. Sobra muita. Em toda casa sobra muita comida. Jogamos comida boa fora todos os dias. Jogamos frutas, verduras e legumes. Jogamos alimentos vencidos na nossa própria dispensa. Isso é de cortar o coração. Porque quando falam que onde come um come dois, vou mais além. Onde come uma família, come-se duas. Tamanha fartura que hoje vivemos, consumismo exacerbado e falta de administrar nossa lista de compras e o quanto elaboramos de alimentos na cozinha.

MATRIOSKA









É aquela bonequinha  rechonchuda, bem típica do folclore da Rússia,  que vai abrindo e sai de dentro outra exatamente igual porém menor e assim vai ate sair a menorzinha onde não cabe mais nenhuma.

Um mimo que chama a atenção pela tamanha perfeição de quem elaborou, já que é toda  artesanal e pintada a mão. Fazendo uma analogia ela  merece reflexão na nossa condição de sermos seres que cabemos , que acolhemos o " nós" mesmos da fase anterior.

A adulta acolhe a jovem que acolhe a criança que acolhe o bebezinho que fomos. Isso é tão verdade que as fases vão passando e aquela que não faz mais sentido fica ali dentro guardada. Porque é ali que ela mora, dentro, nas memórias.

Mas quando a fase não foi passada direito, pulou se a fase, ela vive fora da matrioska. Então tem-se a  sensação que :" ela se veste como uma menininha e já é mulher"... Ou quando o contrário ocorre: " tão novo com responsabilidades de um  adulto.".

A matrioska que somos, embora seja uma boneca, serve igualmente para mulheres e homens e  é algo muito importante de ser considerado visto que um deve encaixar perfeitamente dentro do outro afinal essa é nossa essência. Somos o que fomos no passado desde a infância. 

Somos a somótoria de todas as fases e é isso que nos deixa com a fortaleza para enfrentarmos os golpes da vida e não esmorecermos, não nos esfacelarmos, sair as capas e desnudar nossa essência.

Gosto desta analogia. Acho perfeita se entendermos que temos em nosso cerne todas as fases vividas , ora elas se afloram, ora elas ficam bem escondidinhas...Mas elas estão ali, latentes , firme e nos dando a certeza que somos tudo isso e um pouco mais.

É ou não é????

Polenta com leite

Desde criança escuto duas histórias sobre polenta com leite. Quase que cada uma por um ouvido.
De um lado minha mãe falava com boca cheia: polenta com leite? Hum... que delícia que era comer isso na minha infância.
E a gente, eu e meus irmãos, tentavamos entender  como se comia tal iguaria com leite a ainda mais pela manhã... Café da manhã...
Então ela se enchia de orgulho e contava...”Minha mãe fazia  uma polenta grossa e firme , colocava numa forma, deixava endurecer. No outro dia ela esquentava o leite bem quentinho e cortava pedaços da polenta para comermos junto. Na época o pão era muito caro e éramos em muitos irmaos  então minha mãe fazia era polenta no lugar de pão. Eu amava...”
Naquela época a situação era  realmente diferente, não dá para se comparar com hoje, não passavam fome mas considerando que na família da minha mãe eram doze crianças. Ou seja  deve ter sido bem difícil para meu avô paterno nutrir doze e  minha avó.
Ela nunca chegou a fazer polenta com leite para nós. Mas vi ela comer muita polenta no leite quente e se esbaldar de tando que realmente gostava.  Para ela,  era uma agradável recordação de sua infância, onde via sua mãe preparando com carinho comida para todos.
Agora a outra história.
- “eu odeio polenta... Blaaaaahhh dizia meu pai quando via minha mãe fazendo uma polenta no jantar.
Mas porque pai? Perguntavamos na curiosidade de saber porque um amava  e o outro odiava a tal polenta.
“Porque quando eu era criança minha mãe so fazia polenta no café da manhã. Quanta polenta comi na vida. Eu queria mesmo era pão, mas nao tinha então a gente comia era polenta com leite. Hoje eu não posso nem ver. De tanto que comi hoje não quero comer mais.”
E a gente ria que se matava, por ver suas caras e bocas ao falar : polenta.
Nesta circunstãncia sempre me chamou a atenção o quanto as coisas são tão dialéticas. Uma mera polente sucitava na  minha mãe carinho aconchego e amor. Já no meu pai, que sempre foi meio “bocamelecia” era visto com asco  e mesmo  parecendo ter sido contrariado ao ter comido tanta polenta com leite.
Na vida as vezes vejo isso a se repetir em várias situações, corriqueiras que seja mas que nos chama a atenção. Por exemplo o frio, que uns amam e outros tem verdadeiro pavor. Ou a  chegada do  Natal, data muito especial porém para algumas pessoas é motivo de tristeza. Parece que realmente tudo esta  relacionado com lembranças e vivências com a situação. Ter estado emocionamente ligado aquilo, positiva ou negativamente.
Para mim, polenta nem cheira nem fede. Mas me chama a atenção na mesma casa que vivi, pai e mãe ter tido experiências tão distintas em torno deste alimento.