Vez por outra meu pai nos convida para almoçar no convento de final de semana. Ele fica dentro de uma escola cercada de sombrosas árvores, e a calmaria diferente dos dias de aulas, faz duvidarmos que por ali passam muitas crianças todos os dias.
Quando a gente chega já vai sentindo o ambiente tranquilo e sereno, o formato educacional religioso de ser daquelas freiras que mesmo depois de trabalharem a semana inteira ainda se dispõe a abrir o refeitório e com todo o respeito que a deixa me concede, servir uma santa comida.
Ao adentrarmos o corredor já somos recepcionados pela madre superiora que nos recebe com um abraço apertado e macio e palavras carinhosas principalmente se entre nós existem crianças.
Muito atenciosa, sempre lembra também se algum de nós precisa de uma bebida sem açucar e faz questão de trazer na mesa um pouco de gelo..
Quem escolhe passar pela expêriencia de comer tal comida fica se sentindo muito bem o restante do dia.
Dizemos entre nós que a comida nao pesa. Muito leve e farta. E embora seja ali uma escola de primeiro grau, lembra mesmo um refeitório de faculdade. A jarra de suco transita entre as mesas, no total três que vão de fora a fora no recinto. Cada um que chega, pega seu prato, copo e talheres e se serve na bancadas. Sempre tem uma sobremesa, geralmente aos domigos, os quais mais frequentamos, sempre o bolo formigueiro. E uma fruteira com laranjas mexericas, bananas e maças.
Ah… a comida do convento é boa demais.
...
Outro dia muito simpática a madre superiora quis levar meu filho para ver suas tartarugas e demais bichinhos no quintal. Também acenou para a idéia de brincar um pouco no parquinho próximo ao quintal que pertence também a escola.
Era um sábado frio e ventava bastante. Quando o vento apertou anunciando que logo viria um temporal ela disse:
- Vamos voltar porque aqui tem bastante árvores, pode ser perigoso.
Naquele dia., mal sabia que meu testemunho para a dor estava por acontecer.
Ela foi a nossa frente já que devido a um problema na panturrilha não poderia nem deveria correr. Foi a passos largos.
Já eu fui puxando meu filho que teimava em dar a última escorregada no brinquedo.
O vento piorou e quando estavamos próximos à porta, cai um coquinho em meu ombro esquerdo muito próximo ao meu filho. Realmente foi um milagre o côco ter acertado o meu ombro e não a cabecinha do menino.
A dor foi insuportável, mal conseguia falar e agora correr estava sendo difícil demais. Afora que devia me esquivar de novos cocos e cuidar do meu filho para que ele nao corresse perigo também.
- Vamos! Corre!! Você parou? É perigoso ficar por aqui nesta ventania...
- Caiu um coquinho no meu ombro. Dói demais. Tentei falar com dificuldade e pedindo também uma palavra amiga...
E ela dizia ofegante:
- A dor também ensina...
E eu:
- Mas já nao basta a dor da saudade, me referindo a perda da minha mãe.
- Esta sendo convidada a desfocar a sua dor. ...
E como se nao conseguisse nem respirar, chegamos a escada que nos levaria de volta ao refeitório.
Ela se prontificou e trouxe de sua caixa de primeiro socorros uma pomadinha. Passei com vigor na tentativa de que a dor fosse eliminada.
Que nada. Essa e a outra dor demoraram muito a sumir. Essa quase duas semanas. A outra acho que vai doer para sempre.
E sei que no convento sempre me alimento. Tanto do corpo quanto da alma.