quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Besta, almofada e mingau.


Brodosqui, 1977.

Eram três primos crianças, entre cinco e dez anos: João Virgilio, Ulisses e Cláudio. Como todo menino da época eram viciados em Fórmula 1. Eu era a prima menina de dois anos que ora estava de passagem na casa deles. Para quem não se lembra, uma criança de dois anos está em fase de aquisiçào e desenvolvimento de fala e linguagem.


Depois do almoço, sentados no sofá, assistiam o programa esportivo, e nervosos porque o Fittipaldi ou o Piquet não tinha alcançado a pole pósitron, jogavam com força a almofada no chão. Nuum acesso de ira e gritavam:
- Besta!!!!

Para uma criança que está aprendendo as palavrinhas, não precisou de mais nada para que eu associasse que BESTA significava almofada.
E por ai foi, até que um dia pedi para o mais velho:
- João, me da a besta:?
-Que isso menina, não fala bobagem...
Como ele não entendera eu mostrei para ele pegando a almofada e jogando no chão:
- Besta...
Ele morreu de dar risada, chamou a mãe, Corina para mostrar o que havia escutado e todos eles riram muito do fato.
A mãe dos três, minha tia, me ensinou o verdadeiro sentido daquela coisa quadrada de tecido que ficava em cima do sofá. Entendi então o nome verdadeiro : almofada.
Mas para mim, pequena aprendiz que teve como professorezinhos três meninos que já verbalizavam suas raivas e emoções, me deixaram um olhar diferente sobre o fato de jogarem a besta no chão.
Era época de safra de milho e minha tia fazia um curau como ninguém. Porém em Brodosqui ninguem conhecia como curau, e sim como mingau.
Depois do almoço ela chegava na sala, com todos os meninos a postos para jogarem a tal besta no chão, e perguntava:
- Quem vai querer mingau?
Meu pai , que por ali estava agradecia.
- Deixe para as crianças. E intimamemente se bem o conheço devia pensar assim: ecati...
E a semana foi se seguindo.
-Quer minguau Paulo? Está acabando hein.
A mesma resposta se seguia.
-Deixa para as crianças.
Na sexta-feira ela reforçou:
-Olha o minguau de milho está acabando Paulo... eu sei que você gosta...
-O que ? Era mingau de milho? Eu adoro... mas conheço como curau.. Porque você não me disse que era curau?
- ‘E que aqui a gente chama de mingau...
-Mas eu sou uma besta mesmo...
Olhei tácita, para ver o que se referia de novo a tal palavrinha que para mim era o significado de outra coisa. Realmente ele tinha chegado atrasado na poli position.E podia com toda razão jogar a almofada. Tinha se passado por besta...

Um comentário:

  1. Sá: desde os dois anos vc já era uma boa observadora né? Essa sua história só vem a comprovar (com um toque leve e cômico que vc aperfeiçoa a cada dia) que com crianças as coisas sempre são verdadeiras. Então: tenhamos mais cuidado com nossas palavras e atitudes!

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