terça-feira, 18 de outubro de 2011

O alimento do convento

Vez por outra meu pai nos convida para almoçar no convento de final de semana. Ele fica dentro de uma escola cercada de sombrosas árvores, e a calmaria diferente dos dias de aulas, faz duvidarmos que por ali passam muitas crianças todos os dias.
Quando a gente chega já vai sentindo o ambiente tranquilo e sereno, o formato educacional religioso de ser daquelas freiras que mesmo depois de trabalharem a semana inteira ainda se dispõe a abrir o refeitório e com todo o respeito que a deixa me concede, servir uma santa comida.

Ao adentrarmos o corredor já somos recepcionados pela madre superiora que nos recebe com um abraço apertado e macio e palavras carinhosas principalmente se entre nós existem crianças.
Muito atenciosa, sempre lembra também se algum de nós precisa de uma bebida sem açucar e faz questão de trazer na mesa um pouco de gelo..
Quem escolhe passar pela expêriencia de comer tal comida fica se sentindo muito bem o restante do dia.

Dizemos entre nós que a comida nao pesa. Muito leve e farta. E embora seja ali uma escola de primeiro grau, lembra mesmo um refeitório de faculdade. A jarra de suco transita entre as mesas, no total três que vão de fora a fora no recinto. Cada um que chega, pega seu prato, copo e talheres e se serve na bancadas. Sempre tem uma sobremesa, geralmente aos domigos, os quais mais frequentamos, sempre o bolo formigueiro. E uma fruteira com laranjas mexericas, bananas e maças.
Ah… a comida do convento é boa demais.




...
Outro dia muito simpática a madre superiora quis levar meu filho para ver suas tartarugas e demais bichinhos no quintal. Também acenou para a idéia de brincar um pouco no parquinho próximo ao quintal que pertence também a escola.
Era um sábado frio e ventava bastante. Quando o vento apertou anunciando que logo viria um temporal ela disse:
- Vamos voltar porque aqui tem bastante árvores, pode ser perigoso.
Naquele dia., mal sabia que meu testemunho para a dor estava por acontecer.
Ela foi a nossa frente já que devido a um problema na panturrilha não poderia nem deveria correr. Foi a passos largos.

Já eu fui puxando meu filho que teimava em dar a última escorregada no brinquedo.
O vento piorou e quando estavamos próximos à porta, cai um coquinho em meu ombro esquerdo muito próximo ao meu filho. Realmente foi um milagre o côco ter acertado o meu ombro e não a cabecinha do menino.


A dor foi insuportável, mal conseguia falar e agora correr estava sendo difícil demais. Afora que devia me esquivar de novos cocos e cuidar do meu filho para que ele nao corresse perigo também.
- Vamos! Corre!! Você parou? É perigoso ficar por aqui nesta ventania...
- Caiu um coquinho no meu ombro. Dói demais. Tentei falar com dificuldade e pedindo também uma palavra amiga...

E ela dizia ofegante:
- A dor também ensina...
E eu:
- Mas já nao basta a dor da saudade, me referindo a perda da minha mãe.
- Esta sendo convidada a desfocar a sua dor. ...

E como se nao conseguisse nem respirar, chegamos a escada que nos levaria de volta ao refeitório.
Ela se prontificou e trouxe de sua caixa de primeiro socorros uma pomadinha. Passei com vigor na tentativa de que a dor fosse eliminada.
Que nada. Essa e a outra dor demoraram muito a sumir. Essa quase duas semanas. A outra acho que vai doer para sempre.
E sei que no convento sempre me alimento. Tanto do corpo quanto da alma.

2 comentários:

  1. Sá, valeu esperar este tempão que vc demorou para compartilhar suas experiências... espero que todas as vezes que vc for comer lá tenha uma cocada ou algo semelhante que te faça relembrar deste ensinamento precioso que recebeu da madre (muitas vezes Deus nos convida a mudarmos o foco de nossas tristezas, talvez para suportar o que temos que passar. Com carinho

    ResponderExcluir
  2. Que texto bonito... parece q o coquinho te chamou pro momento presente. e te lembrou de deixar sua dor ir embora, deixando apenas a saudade.

    ResponderExcluir